segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Acidez.

Ali estava eu, na plateia, chapado de alguma coisa que eu nem sei o que era. Todos os artistas circenses caíam de tantos rir e eu junto ria, confuso. Demorou até eu perceber que eu era a única pessoa na plateia, exceto pelo cara que parecia um morcego que estava o meu lado. Ele me olhava, ele me julgava.
- Ei homem morcego, não está na hora de salvar o mundo?
- Há muito tempo que parei de tentar salvar o mundo.
- Por quê?
- Ninguém nunca quis entrar na brincadeira. Uma hora a gente enjoa de bater sempre na mesma tecla, ainda mais quando a gente tá desacompanhado. Todo mundo tá preocupado com o lucro pessoal, todo mundo quer mais dinheiro, todo mundo quer mais parquímetro. Sinceramente, eu tenho medo de um dia tentarem privatizar o oxigênio. Imagine só: Indústria do oxigênio. Não estamos longe disso.

O homem morcego pegou um ônibus, o qual ele mesmo dirigiu, dizem que era um ônibus amarelo, daqueles de escola. Foi para a Costa Sul ver o mar, procurar as pequenas belezas que existem em cada grão de areia do mundo esquecido: O mundo natural. Você podia perguntar o que ele estava fazendo quando o visse às quatro da tarde correndo pela praia trajando um terno vermelho e uma gravata verde que exalava fumaça. A sua resposta sempre seria:
- Eu vou pra algum canto qualquer, procurar algo pelo qual vale a pena viver. Eu vou viver o amor e morrer quando dele enjoar. Pretendo largar toda essa vida cibernética e modernéti que as pessoas andam levando hoje em dia. Eu não gosto dessas paradas não, eu sinto como se tivesse que carregar o peso do mundo nos ombros só ao entrar no twitter e ver comentários superficiais de garotas de 13 anos de idade que só querem se declarar para o ídolo juvenil do momento; Ídolo tão importante para elas que em dentro de 5 meses será substituído por outro. As pessoas estão esquecendo de pensar. Eu me pergunto como pretendem viver sem pensar.

Uma vez disse o palhaço do circo: "O homem morcego sempre tem razão".
No circo parece que a gente entra em outra realidade. Por lá a gente não precisa ser quem a gente é. E a melhor coisa do mundo é ser palhaço, é dar alegria, é usar ácido e se perder em meio a tantas cores no céu de diamantes. A boa coisa da vida é você sair pra procurar o homem morcego pra depois de 30 anos se decepcionar e descobrir que o homem morcego é um estado adormecido dentro de você. O homem morcego é o estado da razão.

Um comentário:

  1. Não sei como, mas você tem uma forma de escrever magnífica, fico sempre deslumbrada quando leio seus textos.Você vai longe, talento demais.

    ResponderExcluir