domingo, 29 de agosto de 2010

Velhice.

Estou no carro, acompanhado do meu filho que dirige depressa, como se quisesse se enxergar livre de um peso, que tanto o incomoda, o mais rápido possível. Age como se eu não soubesse. Teu semblante não me engana, filho. Pr'onde foram as aulas de teatro que paguei quando tu era piá? Nesses momentos mais intensos nem o melhor dos atores consegue pensar em uma atuação que convença.

Chegamos ao lugar prometido. Essa é a baliza mais longa que já vi, cada toque no volante equivale a horas que na verdade são frações dos segundos que tiro pra pensar. Vejo tudo, mas não enxergo nada.

Envelhecer tem sido uma merda desde o dia em que me olhei no espelho, pela manhã e encontrei o primeiro fio de cabelo branco na cabeça. Desde então, venho me tornando inútil em parcelas. A cada ano fui perdendo virtudes diferentes. Hoje não acordo cedo, nem trabalho, estudo ou namoro. Não tenho amores ou pernas pra correr.

A tarde chega e me toma nos braços, obrigando-me a me esforçar para não demonstrar os piores dos meus sentimentos. Esse lugar não é dos piores, mas passa uma falsa ideia de alegria que não me agrada. esse gramado verde, essa música clássica ecoando ao longe e essas paredes brancas mal pintadas não me trazem paz, já que são tão melancólicos quanto eu.

É estranho ser velho, a todo momento você sente que vai morrer, mesmo que quando a tua hora tá chegando tu tem a confirmação; é a velha história do teu filme que passa, e isso é verdade. É verdade e a tua alma dói de tanto que tu ri dos teus momentos. No meu caso ela chora, não por tristeza e sim por arrependimento. Arrepende-se de não ter feito todas aquelas tatuagens que eu tanto quis, de não ter apostado em todas aquelas coisas que poderiam ter dado muito certo. Arrepende-se por só agora perceber que viver pra trabalhar é diferente de viver pra trabalhar. Continua se arrependendo por não ter sofrido por mais amores.
O ruim de ser velho é andar tão próximo da morter a ponto d'ela chegar a qualquer momento, em silêncio, e você não perceber. E, agora que morro, sei que o ruim de ser velho é morrer com raiva do teu filho por ele ter te jogado em um asilo.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Trânsito.

Há um tempo atrás eu pintei um sinal de 'proibido estacionar' no meu coração. Sem querer saber de nada, eu continuei a viver; ninguém podia me ter, ninguém seria meu. Mesmo assim meu coração ainda permanecia a gritaria, proclamava sua dependência por alguém, deixando algumas pessoas constantemente estacionarem, sem multá-las. Quem levava o prejuízo no final era eu mesmo. Por que meu coração foge das regras que ele mesmo impõe? Acho que meu coração não tem cérebro.

Pelo menos duas vezes por semana desejo voltar a ser criança. Nos momentos de colapso, eu penso na minha infância. Tardes perdidas com a irmã, dentro da TV. Noites perdidas com a prima, escrevendo fanfics dos nossos desenhos favoritos. Quando a gente é criança, a gente não tem opinião, mas todo mundo nos dá ouvido e ri quando dizemos nossas ideias, teorias e mentiras. Nossas mentiras se fazem verdades para as pessoas que tanto nos amam. Não há amor maior que o da família, e o amor da família é o único que permace o mesmo quando crescemos. Quando criança, somos mais protegidos e amados. Por conta disso, soco meu coração para dentro, até ficar do tamanho do de uma criança que só pode amar desenhos, seus pais e a paixãozinha da escola.

Por falar em criança, gosto de ter atitude tão bobas quanto as delas. Escrevi bem grande sobre a placa, em laranja: 'Não é válido para uma certa pessoa, essa pode estacionar quando bem entender'. Eu só não sei pr'onde isso vai. Só não sei se já deixei de ser criança.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Loucura.

Bem, ver que é complicado escrever, ainda mais se você viveu tempo o bastante para apenas dizer o seu nome.
Fato um : - Estar perto de algo é o mesmo que não estar.
Fato dois : - Viver de lucros e dividendos, faz da sua vida um comércio, ou seja, fique louco antes desse fato.
Fato três : - Hoje não é ontem e nunca será amanhã.
Isso só faz de mim um louco, e sem muita noção do que é a vida. Na realidade, eu nunca liguei para o que é a vida, acho que as vezes ela é só um modo de desabafar. (Pense o que você quiser sobre isso)

Pensar sobre tudo as vezes me ocupa, toma uma certa parte do meu corpo, eu nem sei se queria isso, vejo como posso ser confuso e afirmativo em palavras.
Semanas sempre me deixam assim, afinal são apenas sete dias, o quê pode-ser e conter esses sete dias para tal confusão?
Confesso que ler é algo sorrateiro, e fico feliz por isso, sorrateiramente você é puxado para o seu lado fraco, acaba se apaixonando por isso, por todo aquele mundo da leitura.
O quê nunca foi dito são os motivos disso, porém, pense o motivo que faz uma pessoa escrever?
Não acho, que você tem que ser o próximo vencedor de um prêmio na academia de letras, acho que qualquer ser humano tem algo para dizer ou alguma história para contar, escrever, não está ligado a carros, dinheiro, mulheres, grau de escolaridade , ser ninguém é algo sujeito ao seu julgamento. Escreve aquele que quer, fala aquele que acredita que algo merece ser dito, o resto é tão imperfeito quanto a perfeitção.

"- Nem tudo está errado, só falta você acreditar que não. Ainda acredito no ser humano, ainda acredito no mundo, se isso é ser burro à sua inteligência não me interessa!"

Fernando Teixeira.

domingo, 22 de agosto de 2010

You make it easier when life gets hard.

Um caso antigo disse que amava-me do fundo do coração. Hoje vivo com a certeza de saber o que significa amar alguém do fundo do coração. É um pesadelo, e eu já não sei mais como lidar isso igual quando criança.
Eu, com toda minha inocência e ingenuidade de criança, pedia a papai do céu que ele não permitisse que pesadelos me atingissem porque eu tinha medo de enfrentá-los. Mas aprendi a crescer e aparecer na escola, lá me ensinaram o que era preciso para me tornar uma pessoa útil.

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Quantas crianças Deus já matou através da escola?
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Não me vejo sendo útil sem você. Felizmente eu tenho a confirmação de um retorno quando sei que posso nos imaginar, mas eu não entendo por que sempre estamos numa praia quando nos imagino juntos. Nunca fui muito fã de praia, então eu acho que todo esse clima praiano tenha surgido por conta daquela música que nunca canso de escutar.
Cada abraço teu há muito tempo têm sido o lembrete que ouço na minha cachola: ‘Hei cara, você ainda não morreu’. E sentir o teu cheiro faz-se necessário quando eu preciso de algo para acalmar meus batimentos cardíacos. Em palavras mais melosas, só vivo com você por perto.

Sinto-me como se tivessem arrancado uma parte de mim e transformado em você. Dizem que felicidade plena só existe quando duas almas se encontram. Então, espero pelo nosso encontro, espero pelos nossos momentos. E espero poder ver teu sorriso mais uma vez.

Guardo você aqui no coração e não preciso que isso seja público.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Lucky.

Nós dois, frente a frente, sem saber o que dizer. Eu permaneço, parado, balbuciando o que eu desejo que se tornem palavras capazes de te afetar, mas tudo que eu consigo falar é: "Como vão as coisas?". As palavras reais saltam do meu estômago e com esforço conseguem rasgar a minha garganta, mas os meu dentes as mordem, mastigam e as digerem novamente. Sempre tive problemas quanto a comer coisas não-comestíveis. Se já passei dias num leito de hospital por querer saber o gosto que tinha a moeda de um real, como eu me sentiria se agisse errado na hora de degustar de algo com valor maior?

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Você vale mais que uma moeda.
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Por vezes sinto que já perdi tempo demais e tudo que quero é poder ter-te nos braços e poder voltar a sorrir, mas ao mesmo tempo sinto a tua presença se esvaindo; Distante, como cidades europeias que eu desejo visitar.
Eu quero teu cartão de visitas, guria, e não vou parar até consegui-lo. Por isso viajo pelas localidades mais próximas, procurando resquícios seus que possam me fazer voltar a sorrir, nem que seja pelos poucos segundos desajeitados que temos, quando algo ou alguém não se faz presente para atrapalhar.
A sua geografia me enlouquece.

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Não preciso de Geografia.
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Pra conhecer a cidade de Amsterdã,
passei por Londres e Paris.
Hoje Rio em toda manhã
Não me importa o país.
Eu corro sempre pra te ver
certo de que viajaria mil anos-luz por você.

Nowhere Love. Parte 3

A peça era uma modernização da história d’O lobo da Estepe, de Hermann Hesse. Como eu já tinha lido aquele livro inúmeras vezes, resolvi ficar por lá só pra ficar imersa em pensamentos. Eu estava atordoada, cansada de sair por aí pedindo explicação. Eu tinha 16 anos e parecia que já tinha vivido uns 40, tudo culpa de algumas conversas mal resolvidas e insuficiência de confiança. Afinal, pra onde foi todo aquele plano de ficarmos bem? No amor tem muito disso; a gente começa pensar que já viveu tanto, de modo que começamos a fazer coisas estúpidas, sem pensar. E quando paramos pra pensar, além da morte, faz sentido, porém basta fechar os olhos que a vontade passa. Sempre que fecho os olhos, vejo o Felipe.
Era impossível concentrar-me nos meus pensamentos por diversos fatores. Um, tinha um casal quase se comendo na minha frente e aquilo estava me emputecendo pra valer. Fazia eu me lembrar toda aquela parada que acontecera com Felipe. Dois, os seguranças do teatro estavam chamando a atenção do casal e aquilo me emputecia mais ainda, pois eu tenho certeza que eles não eram tão retardados a ponto de realmente se comer. Algumas pessoas precisam ter noção do ridículo. E o terceiro fator, e o que mais me deixava aflita, era ator principal, que interpretava o depressivo Harry Haller, que não parava de lançar olhares para mim.
Ao fim da peça, os atores anunciaram que estariam tirando fotos e fazendo outras coisas que atores fazem ao término de peças. Quem se interessasse deveria sair pela saída de emergência. Como eu não estava interessada naquela merda toda, saí pela mesma porta que entrei.
Pro meu azar, todos do teatro resolveram cumprimentar os atores.
“Hei, dá licença. Eu quero subir”. Eu falava, em vão.
Acabei indo parar em frente à saída de emergência. Fui falar com os atores. O Harry Haller ainda não tinha tirado os olhos de mim.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Efêmero.

Cansei de contar quantas vezes atirei contra situações inusitadas e atordoantes. Tantas foram a vezes que agora faltam-me balas na metralhadora que, ao contrário do que muitos pensam, não tem mágoas.

Já matei muita gente.

Já senti raiva do passado, não por ter matado tanta gente, mas por querer espalhar amor e, por conta disso, passar a dar o próprio sangue pra pessoas que pessoas, que supostamente eram importantes, poderem colorir seus corações. Se eu não me ferisse, ninguém teria morrido.

Lá fora ta o amor, perfeito pra caralho, mas eu não posso chegar e tomá-lo nos braços. Isso, segundo outros, seria suicídio.
Ninguém enxerga através de mim. Eu sou besteiras escritas num papel e a minha coesão foi tomada, roubada, afastada, levada pra longe e esquecida.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

i wanna be sedated.

O despertador me acordou, gritando o que antes parecia uma sinfonia composta com atenção, nota por nota. O dia ainda não chegou, a noite está lá fora, bravejando, atrevida, trazendo a mim o mesmo mau-humor por viver todos os dias a mesma frustração.

Saio por aí, madrugada adentro, sentindo os batimentos acelerados. Cada passo é uma dor aliviada e renovada, cada lágrima é um desespero jorrado para um poço dentro de mim mesmo. Não há fração de segundo que me acalme.

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Eu preciso aprender a caminhar.
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Volto pra casa. O relógio marca 10:40 da manhã.
O relógio me julga. Ele é mau, ele está contando minha morte. Ele conta os segundos, conta em prosa tudo o que me resta, conta em versos tudo o que me passou. E no final, nada pra contar. Os relógios falam muito por não terem nada a dizer. São inanimados, cinzas.
Matei a aula.

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Todo mundo é parecido quando sente dor.
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A gente enlouquece quando sente dor.
Amei errado e na bebida procuro esquecer.
Mas no fim, pelo menos aprendi a me esconder dentro de mim mesmo.

Não sou forte e não posso vencer quem é mais forte que eu. Pelo menos tenho coragem de por a cara a tapa e viver como humano. Não sou parasita.
As pessoas me dão nojo.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Mentiras novas (velhas).

É impossível perceber tudo que acontece ao nosso redor enquanto as nossas atitudes e conseqüências refletidas a elas ainda estão frescas. Hoje, depois do tempo retirado para pensar, sinto que minha vida amargou com os dias passados. Agora tenho momentos de revolta, cujos quais resultam em pequenas faxinas no meu passado. Rasgo, queimo, ponho fim, jogo fora tudo que remete ao meu passado decepcionante (que só é decepcionante pois consegui decepcionar a mim mesmo. Gênio).

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Acho que há mesmo algo morto em mim.
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Começou quando eu pensava que eu não era patético. Tive inspirações e hoje odeio tudo isso. Tenho certeza que me fodi, e não guardo esse segredo de mim mesmo.
Procuro novos caminhos, mais fáceis, simples, com poucas curvas, qualquer coisa que não me assombre, qualquer coisa que não me cause a mesma síndrome de sempre. Cansei do mesmo e velho caminho sinuoso em que insisto em citar, essa estrada nunca me fez bem; ela prostrou-se na minha frente e eu a segui por um capricho sonolento, uma preguiça indolente ou por um orgulho ensimesmado.

Não sei pr’onde diabos esse blog me leva, ou pr’onde levará no fim de tudo, mas cansei da menina que nunca gostou de mim, cansei de pensar nos novos (velhos) amores que são impossíveis para mim, momentaneamente. Não quero frustrações infantis que aprendi com outras pessoas.

Sem mais conversas, desabafos ou afetos. Restam aqui eu e meu papel, frustrados, esquecidos, totalmente descartáveis e cheios de história pra contar.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Corpo e Mente.

É inverno e ainda não dormi, fiquei pensando em como curar essa tristeza que vem fatigando-me, mental e fisicamente.
Por vez ou outra, encontrei pequenas soluções, porém momentâneas, que mal cabem na minha condição piegas.

Já vivi em muitos corações. Já estive em tantos ao mesmo tempo, que cheguei a pensar que precisaria de um bolso maior para carregá-los. Mas estava errado, eu nunca possuí nenhum. Não tenho nem o meu próprio coração, já que todos os dias, antes de dormir, sinto uma dor imensurável nesse buraco que existe dentro de mim. Preciso de alguém pra suprir a sua falta.

É inverno e eu quero dormir.
Você ou Rivotril?

domingo, 1 de agosto de 2010

Nowhere Love. Parte 2

Saí da casa de Felipe com os sentimentos transbordando pelos olhos. Eu tinha certeza que aquela noite seria longa. Corri pela rua, vendo tudo que não devia ver. As vielas da cidade cheiravam à morte fresca, sexo fresco, ácido fresco, álcool fresco. Desde 1989, quando eu tinha cerca de 10 anos, a cidade já era assim, perdida. Eu sempre me perguntei quantas pessoas morriam, à noite, no centro da cidade do Rio de Janeiro. E não havia pesquisas que me explicassem isso.
Por fim, esbarrei em um cartaz que dizia: “Die lüge – A mentira”. Era o anúncio de uma peça. Provavelmente era mais uma daquelas peças idiotas, sem conteúdo e com atores tão péssimos quanto os que atuam em ‘Malhação’. Mas quem sou eu para criticar? Senti-me atraída pela peça apenas pelo nome em Alemão. Decidi que assistiria. Me arrependi.
- Uma inteira, por favor. – A moça que vendia os bilhetes tinha o rosto simpático, mas as rugas revelavam um sofrimento no passado. Resolvi ficar quieta.
- Inteira, tem certeza? Você me parece jovem, menina. – Eu sabia que ela era simpática. Estava fazendo isso tudo só para eu pagar menos. Mas eu não estava com cabeça pra isso.
- Tudo bem, moça. Quero uma inteira mesmo. – Tentei sorrir. Falhei.
- Então tudo bem, menina. Eu só tenho ingressos para a primeira fileira. Algum problema?
- Nenhum.

A fachada do teatro era-me familiar. Acho que era ali que meu avô me levava quando eu era mais nova, mas naquela época as coisas eram diferentes. Drogados não se faziam presentes, espalhados pela rua, a pintura ainda tinha cores vívidas e não aquele cinza sujo pelo tempo, não havia marcas de sangue no chão, nem agulhas pela calça.
Entrei.
Coragem.
A segunda virtude, pra mim, é a coragem. Às vezes tudo que precisamos é um pouco de coragem, não importa se esse encorajamento sai de nosso interior ou se ela vem como a ajuda que precisamos, de um anjo da guarda. A vida é um jogo de azar e o vencedor é sempre aquele que tem a maior cara de pau.
Vale ressaltar que naquela noite eu descobri que autoconfiança em demasia pode prejudicar.