quarta-feira, 29 de junho de 2011

interno.

Hoje, aflito e confuso, assisti ao poente sujo alaranjado, um misto de luz de falso acalanto, difuso, atirando para todo lado a confusão que me acercava. Pensei em toda a fumaça desgraçada que somos obrigados a tossir, poluição imposta por um sistema egoísta. Pensei também na fumaça desgraçada que aspiramos por conta própria, negra, encardida, manchadora de pulmões.

Em despedida aos pesadelos que me desassossegam, grito suficientemente alto para que me ouçam, mas ninguém ouve. Me sinto perdido num bairro de periferia esquecido por deus e pela civilização onde não se obtém ajuda assim tão fácil.

O último trago do cigarro é como ver o pôr do sol sozinho: quente, extasiante, mas numa súbita sinestesia tudo se torna tão contraditório, um paradoxo tão frio como a solidão que nos assola, gélido demais, a gente morde o beiço por não saber mais o que fazer, rangendo os dentes para enfim surgir aquele sorriso de lado, amarelo, meio sem jeito como uma voz dissonante desafinando toda a canção que a gente se esforça pra fazer com o ardor de uma boa companhia. No entanto, a gente cai na real e se toca que só uma pessoa é capaz de nos manter aquecido e, quando essa está longe, é pungente pensar que estamos sós. Tolos são os que pensam que a saudade serve para transformar qualquer coisa numa perfeição total. Eu prefiro infinitas vezes sofrer toda essa agonia com meu amor ao lado, pelo menos eu teria um ombro pra me apoiar e, agradecido, chorar até perceber o que realmente me faz bem.

domingo, 26 de junho de 2011

Heavy Rain.

Dia desses cheguei, tardiamente, ao final do jogo Heavy Rain pela primeira vez. Me emocionei e antes fosse por orgulho do meu "trabalho" (nem foi tão difícil assim e no finzinho eu consegui ser capaz de foder tudo, não foi lá um fechamento de conto de fadas).

A mãe de um dos personagens era mais uma das infortunas 35 milhões de pessoas acometidas pelo Alzheimer. Abandonada, vivia internada num hospital. Em meio às inúmeras complicações da doença, ela sofria por outro motivo não menos preocupante: O Abandono. Aliás, pensando bem, ela possivelmente não tinha consciência do mal que possuía, mas conhecia, em plenitude a sua "queda no esquecimento".

A idéia de ser deixado de lado por si só é um terro, corrói-me, destroça o mínimo de esperança em ser amado até o fim.

Muitas vezes nos esforçamos tanto pensando mil maneiras de calcular a queda para evitar lesões e no fim a queda não é nem tão martirizante. FODA-SE, e se um dia for? Não quero um método de proteção, mas idealizar algo capaz de prender meus pés ao chão. Fora de metáforas, algo que me prende à minha mente. Não posso me perder mais ainda nesses devaneios.

Pondero: Como, afagado por família, amigos e namorada, posso me acabar com tais pensamentos, pessimistas além da conta?

Pondero pela segunda vez: Seria o abandono um mal que aflige a sociedade? O que nós, no auge da nossa sanidade, fazemos para sofrer o abandono? Seria punição por alguns atos atrozes que cometemos? Quem é que decreta essa sentença? Deus?

Enquanto deliro há tanta gente precisando de ajuda... Ajudando não estaríamos sozinhos nunca. É algo a se pensar.

sábado, 25 de junho de 2011

Sexta-feira. Eu sentando frente ao computador ouvindo uma música aleatória da Marisa Monte acompanhada de uns slides de fotos feitos no moviemaker por um zé qualquer.
Encontrei uma nova definição para depressão. Quem diria.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

comigo contigo contido

que virtude é não gastar folhas
eu que de desespero enchi todas
já não tenho nada
nem sequer uma página

tantas vezes fiz as malas
mas acordei sem coragem
sem vontade do mundo conhecer
porque a vida sem você
é um saco saco saco

não fui embora
deitei no assoalho
fiquei

tua falta sempre será um mártir
e dela não quero fazer parte
porque eu
não vivo em empate
pra nós morena tudo ou nada
que passe a navalha
mas não deixe de viver comigo
não jogo pra perder
não sem estar contigo

sábado, 18 de junho de 2011

meu pobre repertório

Tudo que escrevo é crônica, nada mais. Às vezes passeio entre os estilos, faço algo mais lírico hoje, mais narrativo amanhã e por aí vai, mas o importante é: não deixa nunca de ser crônica. Talvez seja caso de pensar que eu seja preguiçoso e não levo tudo ao fim, contudo, sempre que inicio uma grande (não tão grande; na verdade, apenas maior que uma crônica) história, perco o foco, ou então enjoo das minhas personagens que inconscientemente tomam para si características tão minhas, roubam minhas virtudes, vícios, desejos e defeitos e, quando dou conta, eis diante de mim um desfile de alteregos.

No meu repertório literário - nome que inventei pois sou ínfimo demais para ter algo chamado obra - não entram romances, contos e poesias. Esses dois últimos, já tentados por mim, foram reconehcidamente falhos e esse blog é a prova do crime. Aliás, eu devia ser condenado por ser tão ignorante e mexer com poesia. Mas sou teimoso e não nego que gostaria de ser Vinicius de Moraes.

Eu vivo numa eterna distração que me limita a apenas contar histórias. A falta de poética e lábia foram refletidas numa pequena capacidade de jogar palavras que, unidas, podem fazer sentido pra alguém.

Sei que jamais serei escritor de best-seller, até porque não me agrada o popular e também me desgosta a encheção de linguiça quase sempre presente e despecebida. Bem, eu como quase-cronista espero um dia poder ganhar o meu fazendo o que gosto. Quem sabe no futuro não apareço no jornal de vocês? Quem sabe nele, não sou um pouco mais especial?

sexta-feira, 10 de junho de 2011

S.O.S

Difícil é viver num quarto de pensão e estar livre de pensamentos. Não moro aqui porque quero, estou aqui por pura falta de dinheiro. Nunca fui de trabalhar por pensar que seria escravizar-me. Todo trabalho é escravo se levarmos em conta que sempre tem alguém obtendo mais lucro que nós. E o que é o lucro? Uma satisfação irreal.

Triste ver tantas formigas ao horizonte, sem por que, trabalhando para cigarras que estão mais preocupadas em viver a cantar e cantar e cantar em plena pseudoimpavidez. Mas nessa história a cigarra nunca se dá mal no final. O que me tranquiliza é ter consciência de que toda essa pseudoimpavidez é uma máscara para uma preocupação sem fim. No fundo, eles estão se borrando de medo, pois sabem que precisam dos "inferiores" para estarem bem. Eles são tão dependentes e ninguém percebe. Bom, se têm tudo, que ao menos não tenham paz de espírito. Enquanto uma minoria de maus ganha cada vez mais, uma maioria de bons está de braços cruzados, dizendo que a massa é ignorante. Mas não é. A massa não é ignorante. Nem de longe. A massa é ignorantizada. Consegue ser ignorantizada por uma minoria ínfima, que não tem valor algum, que não preza pelo bem comum. Não acredito nessa de "cada um carrega a sua cruz", foda-se a cruz, o mundo não é "cada um na sua", carregar uma cruz resultará numa crucificação. Isso aconteceu com o 'salvador" e ninguém tomou como exemplo.

Hoje, domingo, dia de missa, praia e céu azulzinho, dia de descansar, abro o jornal e vejo sangue. Como pode isso acontecer até no dia de descanso da maioria?

Eu na condição de vetor tento infectar meus conterrâneos terráqueos com o que possivelmente deixaria tudo mais em paz, mas me parece que a infectologia não cobre infecção de sabedoria. Já desisti e agora procuro por uma transmutação. Estou tranquilo. Estou querendo ir a outro plano e procurar por algo que me agrade nesse mundo. É confuso, não sei o que eu quero, mas sei o que eu não quero. Infelizmente, minhas transmutações nunca são eficazes, já me tornei macaco em domingos glaciais e até mesmos atlantas colossais que eu não soube como utilizar.

-
"Quem foi que disse que a vida é uma competição? A mídia? Daqui a pouco é marido contra mulher, irmão contra irmão e por aí vai. [...] A minha pobreza é a minha riqueza, sabe? E nessa sociedade competitiva, a minha derrota é a minha vitória" (Eduardo Marinho)
-

Por enquanto, eu, único a obter a carta de alforria, hoje na condição de liberdade, não consigo viver em um lugar onde todos são prisioneiros. Tem tanta estrela por aí e eu emancipado nesse mundo tão fechado. Sei que tenho muita coisa para conhecer e me tornar grande, então, por favor, me tirem daqui. Alguém chame o moço do disco voador e diga que já cansei de jogar.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

lar doce lar

tempo que temos
pra amar
tempo para assim te chamar:
lar doce lar.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Meu comunismo.

Há mais ou menos uns dois anos que um debate numa aula de geografia chegou ao tema comunismo. Eu, como sempre, sentado alheio ao que acontecia, parei para ouvir sobre algo pouco conhecido por mim.
Na época, com meus mal vividos 14 anos, cheio de arrependimentos nas costas, procurava passar por uma metamorfose das grandes na vida.

Eu sofria forte repressão de uma família centrista (que até hoje mais parece de centro-direita) e, mesmo cansado dos valores por eles impostos, me adequava e não pensava por mim mesmo. Hoje eu olho pra trás e tudo me parece caso de inconsciente coletivo. Classifico assim pois sempre que pergunto-lhes o porquê daqueles pensamentos, respondem: 'porque sim' ou então 'porque eu quero'. É ou não inconsciente coletivo?

Acometido por uma idéia diferente, entreguei-me de corpo e alma àquilo, passando a agir sob influências indevidas. Meu porte era estranho. Cheguei a ficar meses me alimentando apenas uma vez por dia com a desculpa de que "se tanta gente consegue sobreviver com tanta escassez, por que não eu? Isso me causou sérios problemas de saúde que carrego comigo até hoje e, não dificilmente, levarei para a cova.
Vestia roupas velhas e surradas por achar pura vaidade, fumava marlboro por achar bacana, tentava cultivar uma barba inexistente para parecer mais desleixado, comia pouco, bebia em demasia e - maior dos pecados que já cometi - pus um pôster do che guevara na porta do meu quarto que, inclusive repousa ali até hoje por pura preguiça de ter que encarar marcas de durex na madeira. Eu mal sabia o que aquele argentino barbudo que usava uma boina tinha feito para merecer estar estampado em tantos lugares e, consequentemente, na porta do quarto. O che guevara parece até uma personagem criada pela mídia para dar uma falsa idéia de comunismo que seja reconfortante num mundo assola pelo excesso de informações transmitidas pelo capitalismo.

Minha mente juvenil não ia além do clichê ódio aos "burgueses, caretas e moralistas" e os desejos não passavam de uma mera ilusão, uma confusão entre liberdade e libertinagem. Freud classificariam, provavelmente, como um problema sexual mal resolvido. Eu tinha o velho desejo latente de revolução que não se tem idéia de onde vem. Acredito que todo mundo tenha isso. Mas eu mal sabia o que era revolucionar.

Costumo dizer que a vida é uma ponte, mas o outro lado não estava aberto para visitação, eu não sentia vontade de conhecê-lo. Por ventura, um ímpeto de clareza me atingiu e tive o prazer de conhecer novas (para mim) virtudes do mundo. Vi tanta desigualdade, tanta injustiça, tanta babaquice... Mas fiquei calado.
Os últimos dois anos foram repletos de mudanças e é engraçado como a mente de um adolescente pode ser tão mutável. Por sorte, hoje sinto-me sereno.
Algumas coisas continuam as mesmas, claro. Não me agrada a cultura norte-americana, o moralismo direitista continua soando artificial para mim. Ninguém quer ver justiça num mundo como esse.

O comunismo já não me parece assim tão ideal como antes, mesmo este parece incorreto agora. Não vejo formas de existência de uma sociedade igualitária onde um indivíduo ainda exerça uma liderança. Sou a favor de um mundo redondo (metaforicamente, ok?) onde ninguém se senta na cabeceira.

Vai ver eu estou mais pra anarquismo então. Ou quem sabe eu não funcione mesmo com sistemas políticos.

Não quero mais saber daqueles que lutaram pelos seus ideais. Gandhi, sem derramar sangue, foi mais corajoso e VIOLENTO que qualquer outro e acredito que tenha se destacado justamente por isso: por ter coragem de ousar o que ninguém jamais pensaria.

Termino o texto dizendo: foda-se, só quero o que é o meu e não quero o de mais ninguém. Não quero converter ninguém a nada, pois acredito que de alguma forma o bem ainda vai se propagar pelo mundo. Esse texto só veio a calhar por alguns acontecimentos desse 01/06/11.

Dedico esse texto aos verdadeiros guerreiros: John Lennon, George Harrison, Liu Xiaobo, Muhammad Yunnus, Jimmy Carter (norte-americano também tem vez), Tenzin Gyatso, Martin Luther King JR, Nelson Mandela, Gorbachev e outros não menos importantes que os nomes não me vieram à mente.