terça-feira, 30 de agosto de 2011

às vezes no silêncio da noite

De repente me senti sozinho no mundo, como se não fosse daqui e, aos olhares estranhos, respondia: não sou tão bom assim, sei que realmente não pertenço aqui. O vento cortante havia parado, dado uma brecha pro clima seco desidratar qualquer esperança que houvesse. Foi ontem à noite.

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Estar sozinho é contar com os reflexos pra se proteger de um projétil, podendo simplesmente desviar. Por mais que tenhamos certeza de que podemos nos defender, a gente sempre vai levar a porrada.
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Ontem à noite desci as ruas desconhecidas do meu bairro, olhando para os lados, procurando por alguém que ainda tivesse vontade me acompanhar. No horizonte, o preto da noite se fundia a uma última faixa laranja que restava do que alguns minutos antes era o sol. Tudo estranho, muito mais escuro que o real, ainda eram seis da noite. E eu caminhava, adentrando a escuridão na rua sem postes, de forma que minha roupa negra me confundia com as sombras. Ninguém me via. Eu continuei a andar como que pra me perder. Espero que ninguém me encontre.

"Por que meu coração foge das regras que ele mesmo impõe? Acho que ele não tem cérebro." (Eu, um ano atrás)

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

foi embora

felicidade até vem
em pequenas doses
vai embora
mas de hora em hora
aparece
some
como fumaça
nem disfarça
não me quer

domingo, 28 de agosto de 2011

Medieval

Hoje, longe da Idade Média, colocamo-nos a par dos conhecimentos, adquirimos o livre-arbítrio de impor nossas escolhas de acordo com nossas vontades. Nós, mesmo assim, donos dos nossos destinos, causamos uma reaproximação da filosofia medieval quando aceitamos tanto controle sobre nós. O problema acerca disso tudo é a falta de visão ao redor dos umbigos. Parece que as pessoas são capazes de identificar falcatruas apenas – e às vezes nem assim – enquanto observadores.

Genialmente o ser humano descobriu o cinismo como instrumento de controle: “sou teu amigo, quero teu bem, escuta o que to te falando, faz desse jeito, sei os conselhos que estou dando, viu?, devia me agradecer agora”

Então, desiludidos e com um sentimento de traição, enxergamos inimigos por todos os lados, xingamos, nos isolamos, falamos que o amor é uma merda, gritamos que ninguém é amigo de ninguém; durante dois meses; e em seguida damos início a um novo ciclo de merdas.

Hoje li umas estatísticas que diziam que com o tempo muitos se tornaram dependentes de antidepressivos. E essa estatística aumenta cada vez mais. Tanto esforço para nos livrar de grilhões que aprisionavam nossa mente e agora usamos qualquer merda somente para “parar de pensar um pouquinho”. E dá-se prosseguimento a um mundo lotado de drogas que corroem a mente e o corpo: antibióticos, antidepressivos, barbitúricos, álcool, religião, futebol, política, economia, lisergia, cocaína, paixões. Quanto ao uso, não adiro nem rejeito, não digo não nem digo sim. Nunca digo nada. Só quero me divertir e os outros - desculpa - que se fodam.

Alguma vez li em algum lugar que nos tempos idos se queria pensar e não podia, hoje pode-se pensar e ninguém quer. Concordei.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

pluralidade

o homem que vivia em plural ria à toa da situação
era o tal mas nunca ia além
carregava o coração na palma da mão
por não poder mostrá-lo a ninguém

aquém ele ficava a sonhar
trabalho casa igreja armazém
uma rotina sem poder mudar

precisava de um primeiro viajar
a liberdade pra voar
conhecer o mundo prazeres tudo
ele ia lá... ia andar

te escrevo agora
eu, o zé ninguém,
já estava na hora
e finalmente posso dizer amém
não há paz ou senhor
mas já conheci o meu amor

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

nossa canção

impávido diante do novo som
vem do horizonte mostra viver em sapiência
lá distante a nova essência do meu querer
que agora longe faz perecer

música nova aos ouvidos de quem já foi
tenaz como bater de asas de beija-flor
mas aqui sem beijo
apenas desejo

novo lugar pra mim
de almas transbordadas sem saudade
viver em paz
sem donos da verdade

domingo, 14 de agosto de 2011

Você está só?

Então você acordou?
Tomou café tarde, afinal não tinha um motivo para acordar, certo?
Vai seguir desse modo durante a semana, vai perder seu espirito pela casa e mesmo sabendo que está no caminho errado, você segue...
Nada está muito certo, você não liga tanto assim para as próximas horas, quem dirá então, as próximas semanas!
Você sabe, mas prefere não saber, certo? Quem está errado afinal, o "eu" do seu "ser" ou o "ser" do seu "eu"? Será mesmo que você consegue suportar todo esse sofrimento? E por qual motivo você deve suportar?
Seus olhos fogem nas conversas, ninguém liga se você não faz sentido, o frio e a solidão começa tomar conta e então vem a desistência e o cansaço. Com todos os seu pensamentos conturbados, seus sentidos distorcidos e suas emoções misturadas, para onde corre quando você é quem está correndo atrás de si próprio? Mudanças de humor, mudanças de hábitos, vontades e até de desejos, quem está no controle? Quem? Quem? Tudo começa a passar e você não percebe, não liga, não quer ver, deixa de acreditar, deixa de confiar, implora para que acabe, deseja que acabe, daria a vida para que acabasse, mas não acaba... Seus sorrisos, suas brincadeiras, todas as sua irônicas verdades sarcásticas, que nunca fazem sentido, que nunca te agradaram, que você mesmo nunca entendeu! Quem é você? Quem está com você? Quem sente você? De verdade? De coração?
Mas você não liga, certo? Você nunca ligou, tudo não te agrada e até o que consegue te fazer feliz não lhe entende, o erro persiste, o erro insiste e tudo está indo para outro campo de visão, só que você não liga e isso é bom, te faz continuar, mesmo que por uma solidão interna, que é bem superior a externa, que te destrói, que te leva a falência de pensamentos bons e de criatividades positivas! Então quando percebe, lá se foi mais um dia! Ou outro dia? Ou até mesmo qualquer dia?
Então você sabe responder quando foi a última vez que você realmente acordou?

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

ambulante

areia de praia...
mais uma batalha
lá vai o zé
água cerveja mate picolé

um esbravejo
outro
cada venda é um tesouro

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

II.

Quando o elevador se abriu, ela apareceu, ainda mais linda que seis meses atrás. Ele, bobo que era, mal tinha notado que seis meses são 24 semanas, 168 dias, etc. As horas, nem queria saber quantas, mas na verdade ele não tinha aptidão para fazer tal conta na cabeça numa fração de segundo que fosse. Sessenta vezes Cento e Sessenta e Oito. Quatre Mille trente deux.

Perdido entre números e o francês fraco que pensava dominar, abraçou-a.
- Como foi a vinda até aqui?
- Fácil. Usei um GPS.
- Ei, tá puta?
- Claro.
- Foi alguma coisa que eu (já) fiz?
- Foi. Tanta coisa pra fazermos em tão pouco tempo e você vem logo me perguntar como foi a viagem?

Fim de abraço. Precisavam de contato visual pra variar.
- Tu sabe minha tendência a fazer perguntas idiotas, amor.
- Pior que eu sei. – Ela disse, rindo, pestanejando, linda.

Deram as mãos, entraram pro apartamento fedido a cigarro. Qualquer garota no mundo ficaria puta e diria pra ele dar um jeito naquele cheiro imediatamente ou ela cairia fora. Mas não ela. Ela adorava o cheiro de marlboro misturando com o 212 que ele usava. Tabaco e Eau de Toilette.

Seis meses foram suficientes para ele transformar o apartamento no inferno: livros abertos sobre a mesa, papéis pra todos os cantos, folhas de papel rabiscadas (na verdade, elas tinham apenas rabiscos indecifráveis), cinzas pelo chão (ela achava que ele não conhecia a utilidade de cinzeiros).
- Tá admirando meus papéis riscados né? Gosto de chamá-los de papéis-teste.
- Teste de quê?
- Teste de canetas.
- E aquilo? – Apontou na direção de umas escrituras na parede que com dificuldade enxergou. Era míope e o namorado tinha uma péssima caligrafia, horrenda mesmo. Leu em voz alta: “There is no life without love”?
- Isso. Maneiro, não acha? Escrevi pensando em você e nas coisas que quero ter pra sempre.
- Sei. A frase é um tanto clichê, mas vindo de você, é linda, bebê.

De mãos dadas, sentaram no sofá.
- Cara, seis meses. – Ela estava chupando uma bala de maracujá e a cada palavra ele podia sentir o cheiro. Ele detestava maracujá. Até esse dia.
- Pois é, aquela fase de começo de namoro já passou e eu mal senti.
- É. Começos de namoros são engraçados – Riu.
- Como assim? – Paranóia agindo.
- Ah, o excesso de carinho, as horas de grude, a embolação da língua pra dizer um ‘oi’.
- Saquei. Pô, sabe o que eu curto em início de namoro? As voltas que a gente dá com as palavras e as frases pra não dizer diretamente que a gente ama o outro.
- Eu ainda lembro do meu “Eu meio que te amo pra caralho e acho que isso é um problema” que veio à tona na hora mais aleatória possível.
- É verdade, mas foi bem fofo.
- O primeiro ‘eu te amo’ é o mais difícil, sabe deus por quê.
- Eu acho que lá no fundo todo mundo sente um medo de rejeição. E às vezes de fato estamos com o sexto sentido aguçado: somos mesmo rejeitados.
- Ainda bem que você não me rejeitou
- Acho que foi um ponto positivo na nossa relação.
- Tu parece ter aproveitado bastante o tempo em que fiquei fora, tem tanto papel espalhado pela mesa.
Ele riu:
- Sei lá, eu às vezes simplesmente já acordava com um texto inteiro na cabeça, embora sempre estivessem meio embaralhados, mas daí bastava um cigarrinho e tudo fluía bem melhor.
- E pelo visto tu também não tá controlando o cigarro né? Porra.
- Às vezes tenho vontade de parar de fumar de vez.
- Seria bom pra tua saúde. – Irônica – Tu é uma chaminé, cara. Eu apoio porque não quero meu homem tossindo sangue aos 35.
- Ouvi dizer que a cada cigarro fumado são 5 minutos a menos de vida.
- Tu acredita nisso?
- Sei lá, mas pelo menos já é um grande motivo pra eu parar de fumar.
- Anos de pesquisa que dizem que o cigarro é horrível pra saúde e tu resolve parar de fumar quando lê num desses sites que só tu acessa que cada cigarro tira 5 minutos de vida?
- Pô, cada cigarro é 5 minutos a menos com você. – Ele apagou o cigarro, sabia que ela não o levava a sério.
- Ei, esquecendo essa parada toda, quando tu falou a parada de ser rejeitado... é sinal de que um dia tu vai me rejeitar, sei lá, por enjoar de mim?
- Meus namoros sempre são 30 vezes mais interessantes no começo e depois de duas semanas tudo costuma perder a graça, sabe?
- Sei
- Só que com você é diferente.

Beijaram-se.
Transaram.
Conchinha.
Dormiram.

Ao acordar, ela não estava ao seu lado.
- Amor?
- Oi? – Ela apareceu saindo do banheiro
- Oi.
Ela sorriu
- O que você foi fazer?
- Escovar os dentes
- Passou fio dental?
- Não, eu tenho preguiça, por isso eu nunca passo, pode terminar comigo agora.
- Caramba, eu também não passo.
- Sabe o que isso quer dizer?
- Que fomos feitos um para o outro até quando se trata de higiene bucal?
- Não. Significa que economizaremos uma baita grana.
- A grana arrecadada será usada no tratamento das cáries que nossos filhos terão, senhorita.
- Ei, te amo.
- Também te amo, gatinha.
- Te amo te amo te amo. Sou chicletenta, lide com isso.
- Gruda no meu cabelo então.
- ?
- É sempre mais difícil de tirar.

Ela riu.
Ele riu.
Se amavam.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

I.

faz-se segredo indizível
mas nenhum medo paga o preço
de estar na vida incoerente
mesmo de mente sã vou
passeio na lagoa de manhã
no aeroporto arpoador
qualquer lugar possível
ou impossível
é isso, morena
vale a pena perder-se
pois assim se encontra a verdade
e eu os ouvi dizer
não sei se lúcido ou sonhando
que no cedotardar a felicidade será só você chegando.