terça-feira, 31 de maio de 2011

coração de náufrago

coração de náufrago resgatado em fim de tarde
salvo de afogamento
mas não salvo de alarde
lá do fundo da cidade já se escuta

corre senhor senhora menino
vai até a igreja e toca o sino
que o padre não está lá
foi ver coração de náufrago à beira-mar

até a roda de samba parou pra ouvir história
do senhor, da senhora
era feito de plástico
viajava quilômetro dentro d'um saco

não era degradável o pobre coração
afável como algodão
mas forte demais pra desmanchar

domingo, 29 de maio de 2011

divã

o tempo perdido perdendo tempo
não foi desperdiçado
hoje deixado de lado,
não haveria tanto alento

foi o ácido, senhor carteiro
foi ele que durante o ano inteiro
nos deu o porquê,
chave pra entender esse meu ócio criativo
ele sempre dominou
e agora, meu amigo, terminou

morreu a vontade
de descobrir a verdade
pois esta, já sei
pois desta, já me cansei

pra que um divã, doutor,
se toda mente é sã?
a clareza me fez mal
prezemos pelo irreal

quinta-feira, 26 de maio de 2011

palavreado popular

calo-me diante o vocabulário errôneo,
o palavreado popular,
jogo que de tão ruim
me rende ao senso comum

agora acredito em oxum, oxossi, ogum
entrego-me às minhas descrenças
ingênuo ao pensar,
que a solidão não é o que se pensa

debruço na noite atrás de respostas
encontro explicação
certeza de que se qualquer uma visse como eu vejo,
ao chão,
não haveria de ter
nem meta ou plano pra explicar

se entregariam
e aprenderiam a amar
como eu amo.

terça-feira, 24 de maio de 2011

amor-adia

quem sabe um dia eu me salvo
torno-me imaginativo
pensando que ao lado meu
haveria você

sendo assim,
pra ser feliz nem me esforço
não há rimas nem formas
pra você, tudo que posso

quem sabe um dia me esqueço,
deixo pra lá o cansaço e vou buscar
lá bem longe,
além de Pasárgada
o amor que muito quero

sendo assim,
com a mente mais leve,
eu teria você por perto
não só em pensamentos
pois desse sofrimento perpétuo já me cansei

hoje falo com olhos fechados
procuro não enxergar
que o faço sozinho, não por opção
por destino

em Pasárgada,
haveria diversão
Manuel me disse
haveria alguma razão
pra eu ter como sina
a minha menina
amor-adia que hoje eu quero descansar

sábado, 21 de maio de 2011

eu + eu

Eu gasto o cérebro tentanto algo que não seja introspectivo, mas não me sinto confortável para escrever sobre os mais diversos assuntos quando mesmo sou capaz de buscar em mim alguma explicação pra minhas próprias atitudes.
Essa introspecção, que possivelmente me matará um dia, faz com que, quase sempre, eu acorde com o cérebro confuso e latejante, desejando um tempo ausente de mim mesmo. É uma depressão pós nada que surge sem motivos e ocasiona a minha ausência do mundo (mas não de mim mesmo).

A overdose da própria presença é quase que inevitável para pessoas paranócias que, como eu, sentem-se cansadas de passar tanto tempo em conflito consigo mesmo.

É pecado, num relacionamento, quando os sacos estão transbordando de tão cheios, uma pequena separação acontecer, um "tempo" ser dado, para que as coisas em ambas as cabeças possam voltar ao lugar? Pois bem, pecado ou não, na relação com o "eu" não existe separação.

Tento deixar a vida mais leve, mas em meio a tantos desencontros, passo a agir como se alguém tivesse pedido para que eu, enquanto ela fosse na padaria comprar cigarros, vivesse em seu lugar. Então, eu hei de saber que todo cuidado é pouco quando se trata de algo tão precioso. Se eu quebrar a vida de a alguém ou causar algum defeito, não posso comprar uma nova e dar de presente. Portanto, ajo de maneira ensaiada como que para atiçar a quietude do mundo e evitar adversidades.
Quantas vezes na vida a gente faz/fala o que não quer só pra arranjar um pouquinho mais de paz?

Queria que a razão possuísse mesmo uma voz para, vezenquando, eu ter boas palavras pra ouvir.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Liberdade.

Engasgo ao falar o que o título diz, a letra sai estranha aqui nesse papel quando a escrevo e tudo se embaralha. Talvez seja porque, superficialmente, isso é tudo que desejo.
O que anda me intrigando eu resolvi perguntar ao Houaiss:
"Condição daquele que não se acha submetido a qualquer força constrangedora física ou moral", ou então "possibilidade que tem o indivíduo de exprimir-se de acordo com sua vontade, sua consciência, sua natureza".

Entendo como força constrangedora: tudo aquilo que impõe um constrangimento a nós, impedindo-nos de realizar uma ação em mente.
Diante disso penso quão distante (ou impossível) a liberdade se faz, pois são constrangimentos: medo, vergonha, ódio, insegurança, ódio, paixão, etc (internos); leis, regras de etiqueta, o olhar alheio, etc (externos). Além desses, há a dependência física ou mental.

Penso: como me emancipar da vergonha, do julgamento, do medo, da timidez, das leis e dos outros inúmeros constrangimentos?
Passo a enxergar como impossível a expressão “Ser Livre”, também porque desde muito miúdos somos criados por pessoas que já possuem filosofia de vida, visões religiosas e preferências políticas. Podemos livremente pensar e escolher nossos objetivos, mas nem sempre é permitido agir para a construção dos mesmos.

Se amo alguém e, por ventura, essa pessoa me põe em situação onde minha vontade e escolha reflete em mágoas para ela, eu não pensaria antes de tudo e, possivelmente, agiria pra deixá-la feliz, mesmo que contra minha vontade?
Nós estamos presos a um sem-número de coisas.

Eu com minha desinteressante mente de 16 anos, prefiro deixar vocês como os grandes pensadores:

“Ser livre é autodeterminar-se” (Aristóteles)
“Sou o único responsável por meus caminhos, sou o único responsável por tudo que faço“. (Jean Paul Sartre)
“Quem quer que já se tenha debruçado sobre uma questão ética difícil sabe muito bem o que o fato de nos dizerem o que é que a sociedade acha que devemos fazer não ajuda ninguém a se resolver por essa ou aquela solução, precisamos tomar a nossa própria decisão. As crenças e os costumes dentro das quais fomos criados podem exercer grande influência sobre nós, mas, ao refletirmos sobre eles podemos resolver agir de acordo com o que nos sugerem, mas também podemos fazer-lhes uma franca oposição” (Peter Singer).

Eu, mesmo depois de procurar por frases coerentes para esse texto, continuo com minha dúvida sobre toda essa questão da liberdade. Parece que para ser livre eu devo emancipar-me de tudo e desprender-me do material e espiritual, ou seja, viver em eterno exílio e ser dono de mim mesmo.

O que é engraçado é: ora digo que deus nos abandonou, ora tenho quase certeza que ele está ao meu lado e isso faz com que eu sinta que é possível viver em exílio, mas segundo o filme Into the Wild, felicidade só é real quando compartilhada. Queria eu poder viver em exílio e, como a música, dizer:
“É Deus, parece que vai ser nós dois até o final. Eu vou ver o jogo se realizar de um lugar seguro. De que vale ser aqui onde a vida é de sonha liberdade?”.

Nota do autor: Que tal um debate? Diz aí o que é a liberdade pra ti ou então pelo menos diz se esse texto mudou, mesmo que pouco, a tua concepção. Desculpa a confusão transcrita, mas foi difícil passar isso tudo pro papel.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

de boas intenções o inferno está cheio

a gente enxerga o outro: preconceito
a gente se enxerga: egoísmo
de erros e maus jeitos o mundo está cheio
e só no inferno há espaço pra cinismo.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Recortes do tempo.

Todos os dias quando me sento diante do computador, procurando algumas, mesmo que vãs, palavras pra escrever, pondero p'ronde foi parar tal inesgotável inspiração de outrora que há anos parece ida.
Essa máquina não me permite pensar. A internet, que de útil muito tem, me controla e aprisiona numa distração infinita e todas as possibilidades tornam-se impossíveis diante dela. As coisas já foram muito diferentes.

Talvez eu mesmo seja a causa dos problemas. Eu não acompanhei a evolução e, hoje, o velho me é tão esquisito. Velho que sou, sinto falta do papel e da caneta, cada vez mais jogados fora. E eu sinto falta de descontar sentimentos no papel com tanta voracidade a ponto de estourar a caneta. Ou então escrever tão rápido uma idéia que não pode ser perdida e não entender nada que está escrito. Ainda assim, o papel me atrapalha; rabiscos, desenhos e borrões me roubam a atenção, acabando pensando demais e perdendo o sono por causa disso. Quem dera fosse proibido sofrer.

Do que mais sinto saudade é da minha máquina de escrever. Lembro-me bem de observar o meu pai fazendo um sem-número de contas numa máquina de calcular arcaica quando eu ainda tinha uns seis anos. Cresci sonhando um dia poder calcular como meu pai, só pra poder operar uma máquina daquelas. Com o tempo descobri que cálculos não são meu forte.
Quando adulto, querendo sentir-me próximo do meu pai, comprei uma máquina de escrever que me acompanhou por muitos momentos. O que mais me causa nostalgia são as noites perdidas sentado diante dela com apenas uma finalidade: escrever. Era um resultado tão perfeito, já que cada erro era uma dor diferente. Meu inconsciente não me permitia errar.

De quantas coisas eu disse sentir falta? O tempo passou tão rápido e eu já nem consigo mais pensar coerentemente. Nunca enxerguei vaidade em mim e minha vida sempre se resumiu a umas poucas coisas: me drogar, foder e escrever.
Infelizmente, as drogas me consumiram na mesma proporção que as consumi. Mas por um tempo foi tão bom... Quero voltar a pensar: Foda-se, sou jovem. Mas já sou velho.

domingo, 15 de maio de 2011

pra ser o que não foi

se prometo a tudo ser atento
eu muito sou Moraes
se peço um pouco mais de paz
eu tanto sou Camelo

é difícil, é tormento
saber que é sempre a mesma ladainha
levo essa vida sofrida
e contra a lei sou suicida
já que é proibido sofrer

tudo passa de novo por aqui
o que já vi e vivi
mas as despedidas sempre voltam
fazem pensar no que não foi

o que não foi
pode vir a ser
um dia
basta querer
basta ter
um novo alguém

alguém que
faça de mim
clareira pra iluminar
as coisas a enfrentar

e se não der certo
é por ainda não chegou
ao fim

sexta-feira, 13 de maio de 2011

por pensar demais

na virtude do muito pensar
amaldiçoo-me só de lembrar
esqueço do que fui tempos atrás
e não me conheço se estou em paz

estou fadado a magoar
quem dera caminhar
sozinho
sem ninguém

o que sempre tem é a saudade
diz vir saudar meu coração
não vejo verdade
ela já veio com má intenção

afogo a alma
faço o garçom bater palmas pro meu show
e vou, não lembro do que fiz
são as garrafas pedindo bis

se hoje estou infeliz
me jogo num boteco
perco, aqui e ali, um pedaço da vida
numa esquina qualquer

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Verdades.

Hoje me sinto sozinho.

Encarei o papel por quase 20 minutos pensando em alguma história pra contar. Não me veio nada à cabeça. Recorri, então, ao clichê: "Escreva de acordo com o que você sente e por meio dessa catarse você atingirá a verdade". Nunca entendi como se faz pra descobrir a verdade a partir disso, mas assim fiz. Escrevi o sentimento que me aflige.

2011 tem me acrescentado muito mas me tirado tanto...
As coisas andam acontecendo em ritmo acelerado demais, anos parecem estar se passando em minutos e... resultado: dissipou-se o meu furor juvenil.

SOLIDÃO. Só a ouve quem quiser. E, mesmo longe, ouço. É incontrolável essa necessidade de estar sozinho quando as coisas parecem ir errado. Na verdade, sinto-me altruísta ao me afastar dos outros quando o pior estar por vir.

AMIGOS nunca mais vi. Parecem idos os tempos de companheirismo. E a culpa não é de ninguém.

FAMÍLIA cada vez mais eu vejo. Parecem idos os tempos de desentendimentos e portas batidas com força. Tornou-se amizade maior que tudo e agora é difícil pensar em deixá-los.

PSICÓLOGO cada vez mais preciso ver. Parecem idos os tempos onde eu tampava os ouvidos para os problemas e pensava ter serenidade.

AMOR cada vez entendo mais. Parecem idos os tempos onde inexistia satisfação pra mim. Sei que erro e quando as coisas estão indo mal, já não penso mais pelo pior, pois sei que todas as merdas que faço (e eu faço merda pra caralho) sempre vão resultar em algo igualmente ruim pra caralho. Contudo, o importante é pensar que esse 'ruim pra caralho' vai me acrescentar algo novo. Descobri que o amor não precisa acabar se há um erro contra centenas de acertos.

MORENA cada vez aumenta mais. Não são tempos idos que me vêem a cabeça por agora, mas sim o que acontece no momento. Hoje sinto-me bem, crescido, mais maudro; já não fico mais feliz ao pensar em ter alguém pra sentir minha falta caso eu parta dessa pra uma melhor. A felicidade vem ao saber que, apesar das desavenças, tenho alguém pra estar comigo até o último momento (no caso, 'último momento' também tem sentido de 'até onde durar'), dizendo palavras bobas como: "Vai ficar tudo bem".
Isso tudo é tão novo, tão fácil, tão simples e complicado ao mesmo tempo. É tão além de algo platônico (platônico no sentido real e não no uso pejorativo que quase todos conhecem).

Tento deixar a frieza de lado. Não preciso calcular nada pra estar bem com o amor. Às vezes, vale a pena ser inconsequente. Se não fôssemos, estaríamos nos limitando. Aliás, me pondera até onde a insanidade já levou a humanidade. Sempre além. Muito além do Ser.

Esses seriam meus dogmas (pelo menos por enquanto), caso a verdade pudesse mesmo ser incontestável.

domingo, 8 de maio de 2011

Ensimesmamento.

O ensimesmamento nada mais é que do que uma volta que damos para dentro, seja por motivos de concentração, recolhimento, medo, trauma ou qualquer outra coisas. O fato de eu ser ensimesmado não tem nada a ver com egoísmo, mas, por vezes (que são muitas), passo pelos olhos alheios sendo o típico antipático egoísta que, à antiga e em bom exclusivismo, ignora toda a presença que não a sua. É uma questão de introversão minha que pouco consigo controlar.

Não sei me expressar. Acredito que seja medo de não ser aprovado por quem eu crie um laço de simpatia, o que é bem raro. Quero dizer, existem simpatias e simpatias. Existem pessoas com quem você simpatiza e quer que estejam ao teu lado o tempo todo, do tipo que tu sente vontade de se unir a ela só pra ela não escapar; e tem pessoas com quem você simpatiza mas não vai nada além de um não-incômodo com a presença. O que quero dizer, na verdade, é: existe uma linha tênue entre simpatizar com alguém e não se incomodar com a presença de uma pessoa.

Amores e amizades são tão parecidos e tão distantes.

Eu quero pensar que posso ter alguém pra vida toda, amigo ou amor. Quero pensar que posso ter alguém por quem eu possa sentir a tristeza de estar matando a saudade, pensando em todas as coisas que deixamos de fazer no tempo em que não nos vimos.

Mais uma vez: não sei me expressar.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Só mais um pra morena

a forma que ela gosta de mim é diferente
parece amor contente que já teve fim
mas não morreu

é calmo e quase ninguém vê
parece seriado, qualquer novela na tv
nunca senti assim
é canção, poesia riscada no chão
aquarela em papel de pão

é no máximo vontade de parecer melhor
a novidade de ser herói, mas meu cavalo só falar inglês
é saudade
é chegar no fim do dia e pensar:

pode ser fim do mundo
mas acordar valerá a pena
se eu pensar na morena

eu posso até pensar em procurar
mas encontrar algo pra dizer é difícil
George Harrison disse por mim:
"em algum lugar no sorriso dela, ela sabe que eu não preciso de outro amor"

domingo, 1 de maio de 2011

Aquela tal ignorância.

Não tenho paciência muito menos compaixão, se você escolhe ou opina por algo não será eu que irá ser contra, posso lhe mostrar o caminho para me agradar, para te agradar, para agradar até à Deus, só não espere que eu lhe diga o que é exatamente o certo e errado. É sua escolha ficar ou partir, falar ou omitir até mesmo quando depende de tal para uma certeza final ou não, todas as minha indecisões são prova de tal lamento e não queria chegar ao ponto de achar o fim uma opção cabível ou até mesmo aceitável.


“Muitos não sabem de onde vem e outros não sabem pra onde vão. Não se contentam com o pouco que tem e outros simplesmente lavam suas mãos.” NxZero - Inimigo Invisível