quinta-feira, 31 de maio de 2012

purée de batatas morais


é este o meu insentimento ao burguês
o que consome
e se farta
que é sombra na rua
passa sem se perceber
escondido na blindagem
fachada pra inglês ver

o que enaltece a dificuldade
e reduz à vadiagem
ele odeia a você, ao prefeito e ao cracudo
pendura cartaz no muro
'paga à vista ou no carnê?'
ele vende a tua saúde
assina teu óbito
castra tua juventude

ele era o liberto
fodia bebia cheirava
mas hoje faz a capa
VEJA!
sua comida está na mesa

quarta-feira, 23 de maio de 2012

véspera

é véspera
de natal, ano novo ou da festa de ogum?
é véspera
coisa de quem espera
e não chega a lugar nenhum

segunda-feira, 21 de maio de 2012

agora que vou

Hoje vou, mas deixo aqui tanta coisa: quantas certeza e incertezas, filosofias e o senso-comum. Tudo que guardo comigo se extingue.

Minha hora chegou e não tive tempo de compreender a Teoria da Relatividade, em para estudar Alemão. Não tive tempo de ensinar meus netos a transformarem o sonic em super sayajin, mas hoje em dia quem se importa com esses joguinhos?
Quanto ao que aprendi: está certo que filhos, netos - quem sabe bisnetos - levarão consigo de alguma forma, quando os ensinei, mas até quando isso é certo?

Quantos mosquitos matei, quantas maçãs mordi, quantos sambas sambei?

Assim como não tive tempo de acompanhar os 4,5 bilhões anos de vida da Terra, meus filhos não me viram passar, só em parte. A gente vive e só vê por completo a nossa vida. Nascemos e morremos solitários, como lobos, e certas vezes, como tais, matamos para sobreviver. Mas enquanto passei, amei a todos que toquei.

Ah! Ah, a vida! Uma só é a vida! Uma só é tão pouco! Por que Deus nos dá uma só? Se ele existisse eu perguntaria. Mas agora eu tenho que ir. Deixo aqui as ambições incompletas e os amados. Uns pensariam e encontrar os amados que já foram, mas eu só penso que estou, em delírio, perdendo a consciência. Mas foi essa que me fez sofrer durante anos: minha consciência. Então me pergunto: se me fez sofrer tanto, por que o medo do não-ser?

Melhor apagar a luz.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

inimigo zé


como o jazz
sou feito na polirritmia
alterante meu compasso
do ar sou a arritmia
sou improvisação por onde passo

acordo tarde
lembro de tocar a vida
queria viver num poema de andrade
ser um raimundo sem ferida
ou até mesmo uma solução
assim encontraria algo de bom
que acalmasse coração

lembro que sou feliz
então rio
e sutil que sou
aponto pro inimigo:
"E agora, José?"

domingo, 6 de maio de 2012

nosso carnaval


lá: nós
sozinhos e sorrindo
num sussurro de voz
corações tão próximos que só
bastava mesmo o olhar
acho que assim é estar em paz

minhas palavras dei, como se enxergasse a mim no teu sorriso
e então,
me vi eternamente responsável pelo que cativei

terça-feira, 1 de maio de 2012

quiáltera


os dias passavam
menos na minha cabeça
eu estático espiava o mundo mas só vivia tristeza
ele se despedaçava
e eu nem via

todo mundo era hostil
era fácil dizer isso
tudo é fácil
pra um fool on the hill

e se no lugar de o mundo estar errado
na verdade eu é que estava paralisado?
e então pergunto
quanto tempo será me sobrou pra recuperar o tempo perdido
ah deixa pra lá
o que é bom há de chegar

o amor parece novo
mas não é
eu é que fui tolo demais pra perceber
que amor é você
e só agora eu sei
do tempo que perdi