domingo, 20 de fevereiro de 2011

Desalento.

Nada que escrevo fica bom. Eu me esforço e tento caprichar quando digo que vou fazer da minha vida uma literatura, mas nada passa do caráter de um conto, ou até uma crônica, cômica, tão ridícula quanto um domingo no parque. Prefiro ser insensível.

Queria que fosse tudo diferente: ter paz, amor e menos decisões eternas. Hoje é tempo mudanças pra mim e provavelmente, em poucas palavras, mudarei minha vida pra sempre. Se assim for, prefiro ser gago.

Deixar passar tudo o que acontece, calado, é uma ciência complicada demais para mim ou pra qualquer outra pessoa, porém sinto que permanecer em silêncio está numa grande vontade de esquecer os problemas que me cercam. Permaneço assim pra ao menos uma vez na vida estar são. A gente tá sempre pensando no estrago, no gasto que, de tão demorado, não temos nem oportunidade de ver. As pessoas, alegres em excesso, imploram por qualquer pio, desde que saia da minha boca. Nesse abismo que é viver, vou até a beira, mesmo que seja masoquismo, loucura ou apenas vontade de isolamento. A todo momento penso em não dizer, mas assim, nunca vou parar de pensar. Pra mim, o simples é odiar. Complicado se torna toda forma de adoração, não posso adorar o que nunca tive. Nunca tive nada. Nem ódio. Odeio por puro capricho.

Tenho pontos demais na carteira e, pela lei, não devia estar dirigindo isso que eu chamo de vida.

O meu medo de escrever é o mesmo medo de ouvir você falar. Eu sempre quis uma vida menor. Um cavaco, um violão, café com o pão comprado na padaria da esquina, poder apodrecer, lentamente, meus pulmões com meus cigarros sem ser perturbado por isso, beber a cerveja gelada no boteco e beijar o meu amor sempre que chegasse em casa.

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Foda-se, já abri mão de tanta coisa... Quando a gente morre, só há o presente.
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As sílabas que se formam na minha cabeça não conseguem permanecer mais de 5 segundos sem se embolarem. Não há modo de dizer como estou me sentindo, pois o gato já comeu a minha língua.

"E no final, assim calado, eu sei que vou ser coroado rei de mim" (Marcelo Camelo)

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Lamento por isso.

É que quando você chega ao seu limite, simplesmente as coisas não fazem mais sentindo algum, o mundo já não te agrada mais e até mesmo aquilo que te fazia tão bem começa a se distanciar, então você apenas segue seu rumo.

Ali, parado aqui ou lá, vendo todas as situação passarem em milhões de anos luz, em apenas um pensamento constante, depois de horas você muda e acredita no seu mundo paralelo, mas o que levar de lá?

Todos os sentidos em combustão e sem paradas meramente calculadas para pensamentos, o que fazer e dizer ao seu coração quando sua mente não está mais em sintonia com ele?

E assim prossegue todas aquelas centenas de começos e fins, repentinos, que levam segundos em seus olhos e horas para seu coração, o que dizer, o que fazer? Por um motivo fútil e simples, você retorna a uma consciência que não lhe convém, mas agrada ao próximo..

No fim, você apenas mostra um breve lamento nos olhos, um breve e tímido sorriso e diz: “Sim, eu estou bem…”

sábado, 5 de fevereiro de 2011

what the fuck is going on?

Às vezes as pessoas parecem grandes entrevistadores com suas malditas entrevistas, cheios de perguntas, procurando uma brecha pra aprontar as nossas falhas e nos deixar com cara de bobo. De repente a gente se vê tendo que viver uma perfeição inventada pelos outros e no meio disso tudo surge a pergunta: "Quem realmente sou eu?"

Fecho meus olhos por um momento e assim eu posso imaginar quem eu quero. Com os olhos fechados eu posso viver uma dimensão só minha, posso sonhar sem ser julgado e, além de tudo, fico parado. A estabilidade por vezes se torna a única saída para mim. Não mudar, não escolher. Sem escolhas nós não erramos. Eu tenho essa mania de fugir das coisas da pior maneira possível. Tenho mais vícios que virtudes e isso não é legal aos olhos de quem me observa.

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Conheci uma garota
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Um beijo e ela foi embora. Um beijo de despedida é mais que um abraço. É o nosso desespero elevado ao extremo, é a melhor forma que encontramos de dizer: 'Não vai'.

Ela era como a bula de um remédio que tomo pra ficar doidão: descrição longa em letras pequenas, muito chato. Pulei a leitura, parti pr'o que interessava, nunca soube os efeitos colaterais e espero não descobri-los. Basta me deixar bem. Agora vou continuar bem enquanto ela estiver comigo. Ou pelo menos enquanto restarem cigarros.

O mundo está me ajudando. Ele passou a andar na ponta dos pés, virou um breve murmúrio, mas, vez ou outra, ele perde o compasso e consegue acordar o fio condutor que parece delinear e carregar pra dentro de mim toda a caconarrativa de lembranças que não deviam ser revividas.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Cher Antoine

Os dias em alto mar foram difíceis. Ser um marujo solitário naquele tempo requiria paciência para enfrentar as complicações do resto da tripulação, as incertezas quanto a viver ou morrer, e, o mais importante, estar preparado para ser alvo de suspeitas. E ser um alvo era o que Antoine fazia de melhor. Ele ficava a maior parte do tempo calado, ocupado demais procurando algum lugar naquele corpo em que deus havia lhe encarnado. O mundo era hostil demais e enquanto todos procuravam vencer a brigar sem suar, Antoine não conseguia tirar a cabeça da morena que fora deixada no chalé de madeira em Mayenne.

Havia meses que Antoine não aparecia em casa. A poeira que preenchia o assoalho era resultado de abandono. Tudo parecia fechado desd'a partida de Antoine. Porta-retratos estavam quebrados pelo chão, assim como copos e cigarros apagados antes de terminarem. A única iluminação era, curiosamente, o alerta da secretária eletrônica.

"Cher Antoine, Je suis vraiment desolé mais je ne peux pas partir avec toi. Du 20 au 24 je dois travailler, j'ai 4 jour de congé. Je vais à la campagne, je voyage en train pour le montagnes, c'est un drôle de chemin."

Anna Julia nunca faltara compromissos com Antoine e dessa vez ela tinha estragado os planos. Ele sabia o que aquilo significava: ir pro Rio de Janeiro, a terra natal de Anna Julia, e lá, seguir adiante.Ele sempre dizia que iria embora quando ela não o quisesse mais, porém sempre enalteceu que nunca amaria outra mulher que não ela. No momento ele estava ocupado demais aproveitando o baile, mas o querido Antoine não sabia que todo carnaval tem seu fim. Ele parecia não se importar com isso. Todos se perguntavam:
"De onde vem a calma daquele cara?"