sexta-feira, 30 de setembro de 2011

pra ter um pouco mais de paz

o cansaço pertinente
que corpo e mente assola
nadando pra cá
voando pra lá
é um tiro de pistola

a paz vem bem leve aos poucos
nas trilhas instrumentais
no rockeiro rouco
nas avenidas transversais

a paz é no mínimo incomum
abstrata e irreal
vai do chão ao céu ao mar
incerta e mortal

ninguém alcança tal patamar
nada ultrapassa o céu de diamantes
todos vêem os navios
mas permanecem inativos os livros na estante

com visto pego o passaporte
engano a morte
tomo chá de sumiço
pra ter um pouco mais de sorte

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

o reviver

quis a paz ver se sossego
e o vazio quis a calma
no vai-e-vem desconexo
de corpo mente e alma

perdido acalentado por má influência
felicidade instantânea e artificial
vendo na autodestruição a suficiência
por escolha, fui terminal

pior que pecador que pede perdão
fui idiota de cair no chão

a solução é o amor
amor materno, eterno
amor fraterno, sincero
amor de amante, tão grande

ah se eu pudesse
viver com o sustento que me dão
outra vez
ah não haveria de ser tão ruim
eu chegaria
não seria agora o fim
amaria todos vocês

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Sonâmbulo

ontem à noite era cego
eu, num inferno
sem fim ou clarezas
só ausência
ausência de mim

me engolia a vontade de sumir
todavia,
era só físico

pelos meios os cabelos balançavam
desfile de cores e texturas
as folhas lá fora em vento avoaçavam
mergulhando a garganta em secura

o tato aguçado pela falta de sentidos
me arrebatava num canto, ferido
súbito

repentino o frio me calava
arrancava voz
amarrava em nó o espírito
sufocava

algo algo algo
alguém?
ninguém
dia algoz
estava só

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Krefeld.

Sou formado em letras. Nunca produzi nada. Quando formado, trabalhando num emprego miserável numa gráfica, revisando livros, às vezes com erros ortográficos inadmissíveis que, se contestados por mim, ganharia como resposta um "não menospreze uma criatividade singular com a de fulano" do meu chefe. Era essa a minha maior inveja: eu, formado, cheio de perfeccionismos, quase um parnasiano, não possuía a criatividade pra criar nem o enredo de uma história em quadrinhos de quinta.

Aproveitei a minha origem burguesa da qual não me orgulho e viajei muito, eu tinha tempo e dinheiro pra isso. Usei a grana do meu pai, conheci a triste bahia que o Caetano tanto insistiu em gritar, conheci o baião, os sanfoneiros, vi pobreza, vi resiliência, não vi inspiração. Mas, aqui pelo Brasil, nada me instigava, a cultura não me agradava. Sempre fui desses idiotas, nem um pouco etnocentrista. Eu era raso, supérfilo, superficial, não fugia da minha capa-dura seca.

A luz que sempre me faltara só tenha aparecido durante minha densa viagem pelo oeste alemão. Atordoado, de fronte a tv, observava o concurso de misses e como elas eram tão vazias quanto eu. Ao contrário delas, infelizmente, eu era vazio porque optara por ser assim. Nunca fui de dar valor ao que tive.

Vendo a mim mesmo como um eterno dependente da arte de outro, percebi que, sendo a arte um vestígio deixado por alguém como propulsor de um frênesi de criatividade, já perdera tempo demais lamentando. Olhando para a parede em mais umas das reflexões eternas, lotadas de existencialimos, percebi que a pilha do relógio tinha acabado, percebi que o tempo já não era mais tão meu amigo e eu nunca fizera nada para ajudar os outros. Era hora de inspirar qualquer um que fosse.

Eu insistia em carregar pr'onde fosse um livro em alemão que, a essa altura do campeonato, nem me lembro mais o título. Ele precisava ser passado adiante, deixei-o estrategicamente no café que tornara-se o ponto predileto na minha viagem a Krefeld. De propósito. Lotado de anotações com os significados das inúmeras palavras que eu desconhecia até então. Aquele que fora útil para meu aprendizado da língua germânica, seria agora, talvez, essencial para a mudança, quem sabe radical, na vida de um alemão: o aprendizado da língua portuguesa. Fico aqui a pensar: um alemão, desiludido, desacreditado no amor, encontra o livro e, de repente, quase impulsivamente, decide, após rígido autodidatismo para o aprendizado do doce português, viajar para Portugal, ou quem sabe até mesmo o meu Brasil. Aqui, ou lá em Portugal, não importa muito, ele conheceria de verdade o amor.

Espero ter ajudado.

domingo, 18 de setembro de 2011

349

Uma garota que, de tanto pensar, pesou. Ganhou quilos; pesou enormemente a consciência; mais angústia. Iludida pelo amargo da vodka que bebia pra manter limpo o coração, experimentou o doce agudo da solidão. E era viciante, mais que os cigarros pra "expulsar o tédio" cuja fumaça, tão livre, era objeto de inveja. Ela queria voar pr'onde deus quisesse, assim como aquele fumo.

A maquiagem forte a iludia, passava um ar falso de superioridade, apenas existente em sua mente perdida. Ela não sua batom nem salto alto, não era adepta às "coisas de putinha adolescente", se enganava, sofria por homem e se julgava maior que o amor.

Era interessante aquela menina; xingava o sistema e usava as mesmas drogas que eu. Nós passamos a nos amar, afinal odíavamos as mesmas coisas.

Hoje, separados, não enxergo mais toda aquela vida nela. Ela nunca teve sua liberdade, parou de estudar porque "a escola é uma lavagem cerebral que, pouco a pouco, denigre nossos neurônios". Agora, vara a noite pelas ruas, carregando em suas costas um recorde: 349 reais.

Meu maior amor valia 349 reais.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

assim como ando me sentindo

a saudade triste
do não pode ver
a saudade do 'conquiste
se você quiser me ter'

apesares
muito nítidos pesares

quando o peito arde é tarde
no banco da esquina sento e espero
não me desespero mais
pois da paz já perdi vontade

nem sei o que faço aqui
já fiz até abá-baxé-de-ori
e a vida passa transviada
uma página que precisa ser virada
que precisa de um engate
pra não ficar em empate

alguém tem que vencer
e eu dizia que era só querer
tolo tolo
ela se foi
querendo não me ter

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Madrid.

quando você chegar amor
terei indo embora
numa nave espanhola
pra virar escritor

quando perceber então querida
peça que me siga
e que a minha falta sinta
que aqui esqueça da vida tão corrida

neste paraíso
sozinho tão tolo
sinto saudade
de ter-te de novo

não nego
me entrego
com as mais lindas flores cores
soy loco por ti de amores

terça-feira, 6 de setembro de 2011

passou

a gente nasce
pra viver num mundo de dor
a gente cresce
calculam nosso valor

tudo se torna acidental
a vida o amor tudo
notas que me preferem mudo
sustenidos e bemois
e dói
me dói voltar àquele quintal
tanta fumaça que rolou
sentados no chão
lágrimas no olho que secou

parece que o coração
carrega o mundo
em silêncio em solidão
mesmo fraco pobre moribundo