segunda-feira, 28 de março de 2011

Suburbano.

Aparelhos eletrônicos da mais alta tecnologia estão por toda parte. Se, aqui, agora, eu fechar os olhos e abri-los olhando para lugar aleatório, encontrarei um. Eu sinto como se eles estivessem sugando as pessoas para longe da vida. Minha vida.

A TV grita em silêncio tentando me acordar, mesmo apagada, agoniada, ela diz que as coisas no Japão ainda não melhoraram, embora muita gente já tenha deixado de falar sobre. Quão frágeis somos nós? Armas de fogo, munição, livros eletrônicos, fotografia digital, internet banda larga. Tudo isso e basta uma causa natural para que tudo se perca. Eu poderia citar Karma ou qualquer coisa do tipo, mas quando foi que um japonês te fez mal?

Paro, coço o queixo, estalo as costas. Meu café esfriou e ainda não parei de encarar a tela, que se não tão quente por conta da energia gasta, eu chamaria de fria, pois é isso que ela me parece. Fria.

Eu vejo as crianças do surbúrbio brincando. Nelas há vida. Muito mais do que houve ou sequer haverá em mim.

Talvez eu devesse me arrepender por procurar uma vida mais calma, natural, mais longe dos perigos cotidianos e menos lotadas de rotina. Toda essa naturalidade são neurônios perdidos que não vão voltar.

O copo d'água eu encho até o meio ou então deixo metade vazio. Isso ninguém nunca entenderá.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Contradição.

Certa vez ouvi falar que uma alma é perdida se, antes dos 30, não for de esquerda. Eram tempos diferentes. Os jovens de hoje estão diferentes dos de antigamente.

Pouco estudo, muito tempo na estrada, dois empregos pra sustentar a família que aumentou. E eu costumava escrever como se fosse morrer no dia seguinte. Vendendo textos eu tirava a renda pra sustentar eu, Anna, o amor de uma vida inteira, e Rita, a velha kombi em que viajávamos por aí. Agora as coisas são outras, eu segui o rumo (quase sempre) natural das coisas e segui aquela velha ordem de fatores: Nos tornamos velhos, obsoletos, construímos famílias. Para protegê-las, procuramos outros partidos, outros políticos, outros ideais, passamos a viver em reclusão, acreditando que se está bem. Estamos seguros em condomínios com circuito de TV.

Eu vivo pra contar história e por isso conta mais uma: Certa vez, em um trabalho temporário como carcereiro de uma prisão no oeste, fiz amizade com um dos prisioneiros da cela mais próxima da cadeira onde eu costumava ficar (era um emprego fácil, apesar de tudo. Não há muito trabalho num lugar tão monótono como aquele).
Conversa vai, conversa vem, Jack (era esse o nome do prisioneiro) ao me responder a pergunta, disse que quando saísse dali, reencontraria a esposa e os filhos, que provavelmente deviam estar sem rumo, e procurar um emprego digno. Achei engraçada a mentira tão sincera daquele cara, pois seus olhos faziam com que meu pensamento se direcionasse para:
- É claro que eu vou voltar a roubar quando sair daqui. Eu não tenho nem o ensino fundamental completo, que tipo de emprego eu posso arranjar assim? Como eu posso ter um nike se não for roubando?

Eu queria, por mais uma vez que fosse, estar de bem.
Ninguém é capaz de viver sem cair em contradição. Ou será que é? Ser livre para os mais conservantes é viver em vão. Nos fazem acreditar.

Perco fé, perco credo, perco esperança. Já perdi. Sou contradição.

domingo, 20 de março de 2011

Mirabile dictu

Foi numa das minhas reflexões (ou viagens) pré-sonhos na cama que constatei que talvez eu não queira nunca perder o que eu tenho agora. Poderia muito bem dizer que se perdesse a pessoa que hoje me faz bem, talvez eu ficasse triste pra sempre. Não sei se estaria sendo justo já que acho uma expressão forte demais pra ser usada assim tão da boca pra fora, por isso não digo que eu estaria triste pra sempre e sim que, com a sua ida, eu estaria com certeza perdendo um 'pra sempre'.

domingo, 13 de março de 2011

Não vou me adaptar.

Carrego comigo um ódio inexplicável (para alguns, pois pra mim é completamente plausível, visto que não odeio as coisas com tanta facilidade) por pessoas com um complexo de superioridade sem sentido, indo sempre contra os chamados por eles 'imbecis'. Essa corja tem apenas uma técnica, me parece, que é escrever da forma mais rebuscada o possível. Tenho pra mim que esses 'deuses do léxico' andam pra cima e pra baixo com um dicionário de sinônimos em mão para sempre poderem formular as melhores e mais inteligentes frases de 140 caracteres.

Lembro-me de repetidas vezes matar aulas de educação artística no meu ginásio, embora não me lembre os motivos. Como consequência estava sempre eu, lá sentado, sozinho, na recuperação final da disciplina. Eu, ao contrário do que muitos pensavam, nunca me importei com aquilo. Mesmo assim, as pessoas (superiores) que eram inteligentes me consolavam.

"Não é tão ruim, Arthur. É apenas Artes, não tem importância nenhuma na sua vida. É só mais uma matéria inútil como todas as outras."

Eu sempre sorria e concordava com esses consolos até o dia em que parei pra pensar que: "Arte é a forma do ser humano expressar suas emoções, sua história e sua cultura através de alguns valores estéticos, como beleza, harmonia, equilíbrio."

O indíviduo só tem permissão (a minha, pelo menos) pra fazer comentário tão sem consistência sobre Arte quando não ouvir mais música, não tirar mais fotos, ouvir músicas, assistir filmes, novelas, seriados e todas aquelas bobagens da TV. Só podem falar mal quando deixarem de ser macacos dançantes.

Não me contento, como uns, em ficar sentado no sofá, em frente a tv, combatendo o sistema imponente que nos controla quando na verdade tudo que quero é ter um colesterol mais baixo pra me encher de fast food.
Não sou inteligente, reconheço, mas faço minha arte. Outras coisas me importam mais. Não fui abençoado com o dom de decorar uma fórmula física e descobrir o universo através dela, ou então escrever os melhores textos. Ao invés disso, fui abençoado com o dom de amar. E quando o faço, faço sem delongas.

Quem é imbecil?

quinta-feira, 10 de março de 2011

Ver demais.

Foi-me dito que amo demais e que talvez fosse hora d'eu seguir o momento e praticar o "desapego", já que eu tinha uma vida social a zelar.
O que é a vida social se não a imagem que queremos passar para os outros, fazendo de conta que nosso padrão de vida é melhor que o alheio ou - nos casos mais extremos - superior. A nossa vida social nada mais é do que aquilo que inventamos e não vivemos por falta de coragem (ou seja lá o que essa sensação seja).

- Eu não gosto de ir a festas.
- Nossa, cadê tua vida social?
- Prefiro ficar em casa. Ler um livro ou ver um filme faz eu me sentir melhor.
- Isso é o que você pensa. Você não sabe nada sobre viver. - Disse o cara com o nome de outro cara bordado no elástico da cueca de 50 reais.

-
Pensar, por sorte (ou não), ainda é de graça.
-

A cultura é massante nos dizendo o que vestir, ouvir, como agir, o que comprar (se você discorda, pense direito), o que comer, quais filmes assistir, quais causas apoiar, a melhor religião a seguir, em qual Deus acreditar, qual partido se filiar, quais livros ler (essa aqui é brincadeira porque ninguém nos incentiva a isso), nos impõe o padrão de segurnça, etc (fim da minha capacidade de pensamento momentânea)

Digam-me como amar e então lhes direi como morrer.

terça-feira, 8 de março de 2011

Pranto.

Ando querendo me jogar em algum canto qualquer e ficar por lá pra não ser obrigado a assistir coisas que não quero. Ninguém vai sofrer no meu lugar, isso eu sei, e também sei que perdi a vontade de acreditar em ombro amigo. To jogando essa porra toda pro mais longe possível pra ver se assim encontro um "foda-se" tão grande quanto o meu receio e ,a partir de hoje, ter algo melhor pra estampar a minha cara.

Tenho a incontrolável mania de jogar tudo fora, achando que é possível começar do zero desde que tenha alguém legal ao lado pra dividir os pesos. Eu tenho esse vício de preencher todos os espaços vazios, até mesmo quando não é necessário ou até mesmo quando me dizem que isso vem a ser uma virtude. Acho que, no fundo, nunca conheci ninguém legal o suficiente. O bom dessa coisa toda foi poder começar a minha coleção de decepções que agora já atinge quase a marca dos duzentos.

O orgulho pode até me mascarar atrás de sorrisos falsos mas o que seria de mim sem a força que ele me dá pra, a pé, continuar por aí.

Eu to saindo por aí, to indo embora, controlando meu próprio guidom dessa vez. Espero assim pode fazer de mim mesmo, proteção.
Não sei se confio, se desconfio, se deixo pra lá. Viver é uma dúvida, acho, sei lá, não tenho certeza.

domingo, 6 de março de 2011

Far away.

A minha vida se resume a fazer e desfazer malas. Eu entrei nesse jogo cedo, logo que atingi a maioridade pra ser mais exato. Acho que todo adolescente tem o sonho impetuoso de ser livre, de não ter rotina, de não obedecer e ser livre por aí, incosequentemente. A maioria deseja levar a vida sem roteiro a se seguir de um pássaro, de boa no céu, alto demais pra ser alcançado; Como se os pássaros não tivessem suas obrigações.

Ontem fiz as malas pela última vez. Pego o navio que deveria me levar para o mais longe possível, mesmo que demorasse anos. Não é uma viagem eficaz pra eu me perder dentro de mim mesmo. Após meses embarcado em meio a tempestades, sol escaldante, frio insuportável, calmarias e sorrisos desconhecidos que me encantam de forma estranha, eu sinto como se tivesse navegado mundo afora e desembarcado na porta de casa. Sinto as pessoas das quais desejei fugir em todos os lugares. Que lugar, se não dentro de nós mesmo, condensa tanto sentimento bom e ruim ao mesmo tempo? A gente sente uma fisgada no peito e faz o drama de uma espada atravessando o coração. A gente sente demais.

O meu coração teima em bater, pedindo pra descansar, mas não há descanso quando se é infeliz. Sinto-me incompleto.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Insosso.

Já faz um ano que a minha vida entrou em um processo de contínua mudança. A intensidade das coisas deixou de ser borrões fugitivos que passavam pelas frestras até chegar a mim, tudo agora é tão novo e nostálgico. É como reviver algo que nunca nem vivi ou como nadar em fumaça.

É engraçado voltar a inspirações antigas quando você tem a mente completamente diferente. Mais uma vez me sinto um garotinho que mal sabe o que fazer, que nem ao menos sabe o que quer. Eu me sinto em apuros mais uma vez, porém dessa vez sei que é ilusão. Sou capaz de viver com a cabeça fria e leve, não sinto mais a necessidade de cavar dentro de mim mesmo.

Tanta coisa que passou que nem olho pra ver quem ficou. Talvez eu devesse voltar atrás e pedir desculpas ou então me arrepender, mas isso seria me jogar em solidão. Ninguém pode cantar a mesma música, sozinho, pra sempre.

Foi-se o tempo em que meu coração se perdia em meio a um emaranhado de pessoas pouco conhecidas. Foi-se e agora me encontro em ponto morto, estacionado em um coração que, se confortável, não sairei jamais.

Quem está abrigado? Não me responsabilizo por eventuais decepções.