Aparelhos eletrônicos da mais alta tecnologia estão por toda parte. Se, aqui, agora, eu fechar os olhos e abri-los olhando para lugar aleatório, encontrarei um. Eu sinto como se eles estivessem sugando as pessoas para longe da vida. Minha vida.
A TV grita em silêncio tentando me acordar, mesmo apagada, agoniada, ela diz que as coisas no Japão ainda não melhoraram, embora muita gente já tenha deixado de falar sobre. Quão frágeis somos nós? Armas de fogo, munição, livros eletrônicos, fotografia digital, internet banda larga. Tudo isso e basta uma causa natural para que tudo se perca. Eu poderia citar Karma ou qualquer coisa do tipo, mas quando foi que um japonês te fez mal?
Paro, coço o queixo, estalo as costas. Meu café esfriou e ainda não parei de encarar a tela, que se não tão quente por conta da energia gasta, eu chamaria de fria, pois é isso que ela me parece. Fria.
Eu vejo as crianças do surbúrbio brincando. Nelas há vida. Muito mais do que houve ou sequer haverá em mim.
Talvez eu devesse me arrepender por procurar uma vida mais calma, natural, mais longe dos perigos cotidianos e menos lotadas de rotina. Toda essa naturalidade são neurônios perdidos que não vão voltar.
O copo d'água eu encho até o meio ou então deixo metade vazio. Isso ninguém nunca entenderá.