domingo, 14 de novembro de 2010

Mardi.

Moro na França há 2 anos e é difícil. Deixei o Brasil por acreditar que lá era impossível viver de arte, mas aqui eu trabalho na rua. Sou jovem, vim pra cá recém-emancipado e agora estou prestes a fazer 21. O dinheiro nunca veio mas está tudo bem, eu nunca soube o que é isso mesmo. Sempre odiei esse papel que nos diz quem tem poder ou não. Ninguém pode escolher ter poder, o poder é que escolhe a pessoa e esse, definitivamente, não me escolheu.
Sobrevivo como posso. Vendo livros com as poesias que eu escrevo, vendo telas que eu pinto e aos finais de semana eu ganho alguns trocados (às vezes muitos, depende da temporada) tocando violão ou o acordeón na praça em frente ao teatro. Foi por lá que eu conheci a mulher que mudou minha vida para um tormento sem fim. Era fim de tarde e o exército inglês tinha ganhado a guerra, o clima estava melancólico por toda a França, nunca entendi esse ódio babaca que têm pelos ingleses, no fundo deveriam estar felizes por mais uma guerra ter acabado, mas o orgulho era maior. Eu estava sentado no banco da praça fumando um cigarro após o café-com-pão que a dona da padaria me oferecia todos os dias. O violão descansava aos meus pés quando a moça sentou-se ao meu lado, ela era mais velha e eu sempre tive essa adoração por mulheres mais velhas.
A voz era rouca, provavelmente devido a tantos cigarros, e me pedia para tocar uma música nova, que ela não conhecesse. Toquei todo o repertório que eu sabia.
- Merci beacoup, garçon, très bien.
Ela me disse o seu nome. Amélie. O nome me lembrava um filme que eu havia visto na infância com a minha irmã. Senti-me terrivelmente nostálgico, mas lembrei que minha irmã jamais gostaria de me ver daquela maneira. Ela sempre me dizia sábias palavras e em todos os momentos problemáticos ela estava bem na minha frente para esbofetear a minha cara.
Amélie me ofereceu um chá e eu pensei estar na Inglaterra. Fui dar uma volta em Penny Lane, vi um barbeiro mostrando, honrado, as fotos de sua família. Estive em muitos lugares, mas quando acordei o banco da praça estava vazio e eu jogado a esmo.
Nunca entendi o que aconteceu. E por enquanto eu escrevo cartas e poesias que ninguém vai ler.
Sou órfão do amor e da arte. E suplico para que todas as pessoas de coração partido concordem comigo: Precisamos aprender que as coisas boas não estão nas pequenas nem nas grandes coisas da vida. Elas, no fundo, estão nas pessoas que passam por nós e reduzem os nossos sentimentos a pó.

2 comentários:

  1. Foi dar uma volta em Pennys Lane né safadinho, hum.

    ResponderExcluir
  2. Foi dar uma volta em Pennys Lane né safadinho, hum. +1
    HUASASUHASAS
    Eu ri. Ficou mt bom o texto... ( vc conseguiu a parada e nem me chamou, né? ) HAHAH

    <3

    ResponderExcluir