sábado, 27 de novembro de 2010

Tempo Livre.

Eu trabalho como colunista de um jornal, faço meu horário, não tenho obrigações ou prazos pois os meus textos são os melhores e sou insubstituível. Não estou me gabando. Na verdade, eu nem gosto disso tudo. Sou infeliz e passava a maior parte do tempo sentando no sofá vendo televisão, e isso continuaria da mesma forma, não fosse meu pai obrigando-me a "ocupar o tempo livre com uma atividade produtiva". Então eu fui pra rua, mesmo sem saber o que aquilo queria dizer. Tempo ocupado, em tese, não é um tempo gasto com produtividade? Eu perdia o tempo da minha vida com textos, livros e filmes. Eu não tinha namorada, não tinha ninguém. O que deveria ser o certo então?

Aprendi a beber, deixei o cabelo crescer, mas não fui trabalhar. O meu novo lar, naquele momento, era o bar, e lá eu conheci muita gente bacana. O vazio ainda me dominava, porém eu podia preenchê-lo com bebida. E foi assim até o dia em que ameaçaram meu expulsar de casa por não estar vivendo a vida nos conformes impostos por eles. Mais uma vez meu pai dizendo merdas que ninguém é capaz de entender.

Vim morar num banco de praça e eu gosto de ficar sentado aqui, matando o meu tempo livre observando as pessoas. Para sobreviver eu preciso escrever no mínimo dois textos por semana, o que resultava na explosão dos meus neurônios. Não tenho mais cabeça pra pensar, não tenho mais voz pra falar, não tenho nem mais ouvidos para ouvir o que os outros têm a dizer. Tudo que me restou foram meus olhos e são com eles que eu tenho por perto o que me impressiona.

Os tempos são difíceis e a minha vida, se não perdida, foi para bem longe ver navios com a desculpa de que ia comprar cigarros. É como comprar um ingresso que dá passagem a minha vida e encontrar, do outro lado da catraca, uma fila que me impede de viver meus sonhos que bem lá no fundo eu nem sei quais são.

Eu passei a observar pessoas compulsivamente e isso é tudo o que me faz bem. Amo observar as intimidades que temos com desconhecidos. Caminhamos na mesma direção e para evitarmos uma colisão, passamos a estudar os movimentos do outro. Por frações de segundos, nossos olhos revelam todo o desespero que pode caber dentro de alguém.
"Qual é o problema de esbarrar em alguém?" - Eu costumava pensar assim.

Não quero mais esbarrar com as pessoas erradas.
O que isso tudo quer dizer? Eu não sei.

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