terça-feira, 17 de maio de 2011

Recortes do tempo.

Todos os dias quando me sento diante do computador, procurando algumas, mesmo que vãs, palavras pra escrever, pondero p'ronde foi parar tal inesgotável inspiração de outrora que há anos parece ida.
Essa máquina não me permite pensar. A internet, que de útil muito tem, me controla e aprisiona numa distração infinita e todas as possibilidades tornam-se impossíveis diante dela. As coisas já foram muito diferentes.

Talvez eu mesmo seja a causa dos problemas. Eu não acompanhei a evolução e, hoje, o velho me é tão esquisito. Velho que sou, sinto falta do papel e da caneta, cada vez mais jogados fora. E eu sinto falta de descontar sentimentos no papel com tanta voracidade a ponto de estourar a caneta. Ou então escrever tão rápido uma idéia que não pode ser perdida e não entender nada que está escrito. Ainda assim, o papel me atrapalha; rabiscos, desenhos e borrões me roubam a atenção, acabando pensando demais e perdendo o sono por causa disso. Quem dera fosse proibido sofrer.

Do que mais sinto saudade é da minha máquina de escrever. Lembro-me bem de observar o meu pai fazendo um sem-número de contas numa máquina de calcular arcaica quando eu ainda tinha uns seis anos. Cresci sonhando um dia poder calcular como meu pai, só pra poder operar uma máquina daquelas. Com o tempo descobri que cálculos não são meu forte.
Quando adulto, querendo sentir-me próximo do meu pai, comprei uma máquina de escrever que me acompanhou por muitos momentos. O que mais me causa nostalgia são as noites perdidas sentado diante dela com apenas uma finalidade: escrever. Era um resultado tão perfeito, já que cada erro era uma dor diferente. Meu inconsciente não me permitia errar.

De quantas coisas eu disse sentir falta? O tempo passou tão rápido e eu já nem consigo mais pensar coerentemente. Nunca enxerguei vaidade em mim e minha vida sempre se resumiu a umas poucas coisas: me drogar, foder e escrever.
Infelizmente, as drogas me consumiram na mesma proporção que as consumi. Mas por um tempo foi tão bom... Quero voltar a pensar: Foda-se, sou jovem. Mas já sou velho.

Um comentário:

  1. Sinto falta da caligrafia que a caneta tineiro nos dava, depois da esferográfica, a boa caligrafia morreu... não sei como puderam fazer isso! Caneta tinteiro é uma maravilha! *-*
    Quando era pequena eu ia pro trabalho da minha tia e criava histórias só para usar a máquina de escrever. E quando as letras se agarravam de tão rápido que eu digitava? kkk
    Somos jovens velhos, caro Leão.

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