quarta-feira, 29 de junho de 2011

interno.

Hoje, aflito e confuso, assisti ao poente sujo alaranjado, um misto de luz de falso acalanto, difuso, atirando para todo lado a confusão que me acercava. Pensei em toda a fumaça desgraçada que somos obrigados a tossir, poluição imposta por um sistema egoísta. Pensei também na fumaça desgraçada que aspiramos por conta própria, negra, encardida, manchadora de pulmões.

Em despedida aos pesadelos que me desassossegam, grito suficientemente alto para que me ouçam, mas ninguém ouve. Me sinto perdido num bairro de periferia esquecido por deus e pela civilização onde não se obtém ajuda assim tão fácil.

O último trago do cigarro é como ver o pôr do sol sozinho: quente, extasiante, mas numa súbita sinestesia tudo se torna tão contraditório, um paradoxo tão frio como a solidão que nos assola, gélido demais, a gente morde o beiço por não saber mais o que fazer, rangendo os dentes para enfim surgir aquele sorriso de lado, amarelo, meio sem jeito como uma voz dissonante desafinando toda a canção que a gente se esforça pra fazer com o ardor de uma boa companhia. No entanto, a gente cai na real e se toca que só uma pessoa é capaz de nos manter aquecido e, quando essa está longe, é pungente pensar que estamos sós. Tolos são os que pensam que a saudade serve para transformar qualquer coisa numa perfeição total. Eu prefiro infinitas vezes sofrer toda essa agonia com meu amor ao lado, pelo menos eu teria um ombro pra me apoiar e, agradecido, chorar até perceber o que realmente me faz bem.

2 comentários: