quarta-feira, 1 de junho de 2011

Meu comunismo.

Há mais ou menos uns dois anos que um debate numa aula de geografia chegou ao tema comunismo. Eu, como sempre, sentado alheio ao que acontecia, parei para ouvir sobre algo pouco conhecido por mim.
Na época, com meus mal vividos 14 anos, cheio de arrependimentos nas costas, procurava passar por uma metamorfose das grandes na vida.

Eu sofria forte repressão de uma família centrista (que até hoje mais parece de centro-direita) e, mesmo cansado dos valores por eles impostos, me adequava e não pensava por mim mesmo. Hoje eu olho pra trás e tudo me parece caso de inconsciente coletivo. Classifico assim pois sempre que pergunto-lhes o porquê daqueles pensamentos, respondem: 'porque sim' ou então 'porque eu quero'. É ou não inconsciente coletivo?

Acometido por uma idéia diferente, entreguei-me de corpo e alma àquilo, passando a agir sob influências indevidas. Meu porte era estranho. Cheguei a ficar meses me alimentando apenas uma vez por dia com a desculpa de que "se tanta gente consegue sobreviver com tanta escassez, por que não eu? Isso me causou sérios problemas de saúde que carrego comigo até hoje e, não dificilmente, levarei para a cova.
Vestia roupas velhas e surradas por achar pura vaidade, fumava marlboro por achar bacana, tentava cultivar uma barba inexistente para parecer mais desleixado, comia pouco, bebia em demasia e - maior dos pecados que já cometi - pus um pôster do che guevara na porta do meu quarto que, inclusive repousa ali até hoje por pura preguiça de ter que encarar marcas de durex na madeira. Eu mal sabia o que aquele argentino barbudo que usava uma boina tinha feito para merecer estar estampado em tantos lugares e, consequentemente, na porta do quarto. O che guevara parece até uma personagem criada pela mídia para dar uma falsa idéia de comunismo que seja reconfortante num mundo assola pelo excesso de informações transmitidas pelo capitalismo.

Minha mente juvenil não ia além do clichê ódio aos "burgueses, caretas e moralistas" e os desejos não passavam de uma mera ilusão, uma confusão entre liberdade e libertinagem. Freud classificariam, provavelmente, como um problema sexual mal resolvido. Eu tinha o velho desejo latente de revolução que não se tem idéia de onde vem. Acredito que todo mundo tenha isso. Mas eu mal sabia o que era revolucionar.

Costumo dizer que a vida é uma ponte, mas o outro lado não estava aberto para visitação, eu não sentia vontade de conhecê-lo. Por ventura, um ímpeto de clareza me atingiu e tive o prazer de conhecer novas (para mim) virtudes do mundo. Vi tanta desigualdade, tanta injustiça, tanta babaquice... Mas fiquei calado.
Os últimos dois anos foram repletos de mudanças e é engraçado como a mente de um adolescente pode ser tão mutável. Por sorte, hoje sinto-me sereno.
Algumas coisas continuam as mesmas, claro. Não me agrada a cultura norte-americana, o moralismo direitista continua soando artificial para mim. Ninguém quer ver justiça num mundo como esse.

O comunismo já não me parece assim tão ideal como antes, mesmo este parece incorreto agora. Não vejo formas de existência de uma sociedade igualitária onde um indivíduo ainda exerça uma liderança. Sou a favor de um mundo redondo (metaforicamente, ok?) onde ninguém se senta na cabeceira.

Vai ver eu estou mais pra anarquismo então. Ou quem sabe eu não funcione mesmo com sistemas políticos.

Não quero mais saber daqueles que lutaram pelos seus ideais. Gandhi, sem derramar sangue, foi mais corajoso e VIOLENTO que qualquer outro e acredito que tenha se destacado justamente por isso: por ter coragem de ousar o que ninguém jamais pensaria.

Termino o texto dizendo: foda-se, só quero o que é o meu e não quero o de mais ninguém. Não quero converter ninguém a nada, pois acredito que de alguma forma o bem ainda vai se propagar pelo mundo. Esse texto só veio a calhar por alguns acontecimentos desse 01/06/11.

Dedico esse texto aos verdadeiros guerreiros: John Lennon, George Harrison, Liu Xiaobo, Muhammad Yunnus, Jimmy Carter (norte-americano também tem vez), Tenzin Gyatso, Martin Luther King JR, Nelson Mandela, Gorbachev e outros não menos importantes que os nomes não me vieram à mente.

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