segunda-feira, 25 de julho de 2011

Medo.

Quando mais novo, minha família tinha o costume de passar as férias na Ilha de Paquetá e algumas coisas foram impossíveis de esquecer: os tombos de bicicleta que hoje são só umas cicatrizes quase apagadas no meu corpo mas que na época eu jurava que ficariam pra sempre, os fins de tardes na praça principal vendo as barcas passando, meus avós parecendo dois velhinhos muito felizes sentados num banquinho como se estivessem fazendo aquilo há 50 anos mas mesmo assim, incansáveis um do outro. Porém a coisa que mais parece ter se fixado à minha mente é o medo que eu tinha de entrar na barca para fazer o percurso entre a Ilha e o Centro do Rio. Embarcar era assombroso, não por medo de um naufrágio pois naquele época eu não tinha conhecimento de filmes como Titanic, mas sim pelo medo do vão entre o cais e a embarcação. Eu tinha medo de cair naquela fresta e morrer afogado; eu era, e isso afirmo com veemência, uma criança um tanto peculiar, nunca tive medo de escuro, monstros, espíritos ou filmes de terror mas arrancava a alma fora só de pensar em morrer afogado.

Tudo isso acabou. Aprendi a me equilibrar na bicicleta e hoje já nem caio mais; meus avós não estão mais juntos, a morte os separou; aprendi a nadar. Vez ou outra meus medos antigos voltam, no começo do ano eu me afoguei na praia do Arpoador, no momento pensei que meu medo de infância se concretizaria e eu, enfim, poderia morrer afogado. Mas não foi assim que rolou.

Os medos não são nada além de uma espécie de proteção inconsciente que jogamos sobre nós mesmos. Sem o medo com certeza seríamos bem mais estúpidos do que somos. Quantas vezes seu relacionamento não foi salvo por medo de perder o outro?

Minha infância ficou pra trás mas os medos de hoje me assombram tanto quanto os de 10 anos atrás. Eu percebi que não consigo falar de mim sem ser melancólico e sendo assim eu não sou mais capaz de alegras as pessoas quando mais precisam de mim. Portanto não falarei mais de mim pra ninguém. Vocês podem me chamar do que quiserem.

4 comentários:

  1. Os medos fazem parte de nós. Não seríamos quem somos sem os medos.
    Por vezes o medo esconde não aversão, mas uma paixão imensa pelo desconhecido. E essa paixão é tão grande, que o medo nos protege de nos entregarmos

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  2. Amei. Que bonito este texto.

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  3. as vezes dá medo o fato de você descrever como me sinto, sendo seu lol

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  4. medo é que nem problema: Tem que ter, se não, perde a graça toda. Gostei do modo como você escreve, Arthur. Seguindo por aqui, também. Boa quarta feira, beijos

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