quarta-feira, 20 de julho de 2011

Super

Dia desses percebi que passo muito mais tempo prestando atenção ao processo de escrita de uma obra a prestá-la à obra em si.

Analisando as personagens criadas pondero se o autor estava pondo ali seus sentimentos momentâneos ou se simplesmente jogava ideias aleatórias num papel com intuito de criar algo novo. Na minha exigente mente existem apenas duas definições para as personagens: alteregos ou a personalidade do próprio autor.

Tudo que escrevo surge como o que eu gostaria de ser quando se trata de uma história. Minhas personagens são o meu eu melhorado. Um eu que não tem medo de arriscar, não sente ciúmes, não sofre pelos outros. Em suma, um eu que só tem o melhor da vida.

Minha infância recheada com a leitura de história em quadrinhos de super heróis me aparece até hoje em dia quando, na escrita, tento representar-me tão cheio de qualidades. Porém, diferente dos super poderosos, não tenho um ponto fraco, nada, nenhum calcanhar pra ser flechado, não há pedras que me deixem fracos, não há a sede de vingança capaz de me transformar numa pessoa má.

Vai ver é esse motivo para tantas falhas no que eu faço: nunca consegue compreender que o “super” não existe, pois até mesmo os mais poderosos possuem seus pontos fracos. De repente, Anakin Skywalker, Super Homem, Aquiles, Homem Aranha e qualquer outro me parecem tão normais, assim como eu.

Meu alterego, esse cheio de qualidades, sempre me dá nos nervos, não sei por quê. Eu o crio na intenção de ser tudo aquilo que não sou e, no ápice de perfeição, fico de saco cheio. Percebi que, não fosse meus defeitos, possivelmente eu nem seria quem sou. Aliás, quem é que não está ao fadado ao cliché de aprender com os próprios erros?

Quero minhas falhas, meus defeitos, quero ser errado. De que adianta ser perfeito pra mim se não consigo nem ao menos tirar um sorriso de quem eu amo dessa maneira? Algumas pessoas admiram nossos defeitos e a gente nem percebe.

Enfim, superei o supereu.

3 comentários:

  1. algumas pessoas te amam só por você ser assim e você não vê. o erro é passível de perdão e mais passível ainda de amor, e por amor.

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  2. "Tudo que escrevo surge como o que eu gostaria de ser quando se trata de uma história. Minhas personagens são o meu eu melhorado.", agente sempre quer ser mais e a criatividade ajuda nisso, sempre pensei em escrever um texto sobre esse assunto, muito bom mesmo, adorei.

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  3. Um grande psicanalista uma vez me falou que "um escritor é ao mesmo tempo todas e nenhuma de suas personagens", foi até hoje a explicação mais plausível que encontrei. Costumo criar, ao seu contrário, personagens claramente diferentes de mim, cheias de defeitos, inclusive, mas posso ver meus traços, mesmo os mais camuflados, em cada uma delas. É um processo e tanto esse nosso.

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