segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Nowhere Love. Parte 3

A peça era uma modernização da história d’O lobo da Estepe, de Hermann Hesse. Como eu já tinha lido aquele livro inúmeras vezes, resolvi ficar por lá só pra ficar imersa em pensamentos. Eu estava atordoada, cansada de sair por aí pedindo explicação. Eu tinha 16 anos e parecia que já tinha vivido uns 40, tudo culpa de algumas conversas mal resolvidas e insuficiência de confiança. Afinal, pra onde foi todo aquele plano de ficarmos bem? No amor tem muito disso; a gente começa pensar que já viveu tanto, de modo que começamos a fazer coisas estúpidas, sem pensar. E quando paramos pra pensar, além da morte, faz sentido, porém basta fechar os olhos que a vontade passa. Sempre que fecho os olhos, vejo o Felipe.
Era impossível concentrar-me nos meus pensamentos por diversos fatores. Um, tinha um casal quase se comendo na minha frente e aquilo estava me emputecendo pra valer. Fazia eu me lembrar toda aquela parada que acontecera com Felipe. Dois, os seguranças do teatro estavam chamando a atenção do casal e aquilo me emputecia mais ainda, pois eu tenho certeza que eles não eram tão retardados a ponto de realmente se comer. Algumas pessoas precisam ter noção do ridículo. E o terceiro fator, e o que mais me deixava aflita, era ator principal, que interpretava o depressivo Harry Haller, que não parava de lançar olhares para mim.
Ao fim da peça, os atores anunciaram que estariam tirando fotos e fazendo outras coisas que atores fazem ao término de peças. Quem se interessasse deveria sair pela saída de emergência. Como eu não estava interessada naquela merda toda, saí pela mesma porta que entrei.
Pro meu azar, todos do teatro resolveram cumprimentar os atores.
“Hei, dá licença. Eu quero subir”. Eu falava, em vão.
Acabei indo parar em frente à saída de emergência. Fui falar com os atores. O Harry Haller ainda não tinha tirado os olhos de mim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário