sábado, 6 de novembro de 2010

Coração de pirata.

O barulho ensurdecedor a me acordar àquela manhã era ela, perturbada como sempre, ouvindo as músicas francesas, barulhentas e habituais que eu insisto em não aprender o nome. O que importa era a presença que eu tinha próximo a mim. Queria que pudesse ficar ali o resto do dia, mas logo ela teria ido e as próximas 13 horas seriam tão longas quanto a eternidade que estou fadado a passar, a sete palmos do chão, sendo comida de verme.

Levantei. O rádio ligado na sala, sozinho, parecendo gritar para que alguém o ouvisse. Às vezes gosto de imaginar que os objetos sentem as mesmas coisas que eu. Da cozinha, saía a fumaça. Não sabia se vinha do Marlboro Light que ela fumava ou dos ovos gritando na frigideira. Ela me encarava, as tatuagens pareciam combinar com os cabelos loiros, causando um exercício novo para os meus olhos, quase insuportável. Encará-la era uma tarefa difícil, uma simples troca de olhar resultava numa noite sem sono e eu gostava daquilo, gostava de doar toda a minha mente a ela.

Eu vivia em um devaneio, um delírio qualquer da mente de um louco que pensa que faz algum sentido ou nexo. Por enquanto eu tento não pensar no problema de fazer sentido, já que eu posso acordar com as coisas que mais amo no mundo: cigarros, ovos mexidos e Beatriz. Dizer 'tento não pensar' é até errado quando sei que sempre vou perder os pensamentos ao ouvir:
- Bom dia, dorminhoco.

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