domingo, 19 de dezembro de 2010

Relatos de um quarto esquizofrênico.

Relatos de um apartamento fechado

Ela está preparando o jantar e eu estou acordando. Não sei como contá-la que você existe e muito menos não sei como explicar por que acordei tão tarde já que nem eu mesmo sei como apaguei. Agora o espelho me conta que meses se passaram e estou torcendo para ter deixado de viver algumas coisas.
O som das cigarras me irrita o cérebro que há muito parece ter deixado de trabalhar ao meu favor. Eu não preciso descrever o que se passa pela minha cabeça, pois meus olhos já dizem a verdade. Eu estou enlouquecendo.

O que é a verdade senão tudo aquilo que agarramos com tanta convicção que, se discordada por alguém, nos faz perder a cabeça a ponto de cometer uma loucura, no mínimo, arrependível? Às vezes nossa verdade é ofuscada por nossas mentiras. Eu vivo o dilema de martelar um prego para depois desprendê-lo do lugar por achar que não combina com o ambiente. Eu vivo a mentira de achar que sou dependente dos meus arredores.

O que me tira da cabeça a vontade de morrer é poder tocar no piano as músicas que você mesma me ensinou. Eu sinto como se essa fosse a única coisa que ainda me resta a fazer. Como se fosse a única coisa capaz de manter você comigo. Eu não quero parar de tocar, pois tenho medo que você vá embora. Mas não quero ter você assim tão perto, assim tão longe.

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Desencarnei num corpo sem coragem
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Estou vivendo e te deixando morrer. Você é imaginária. E as piores imaginações são aquelas que podem ser tornar verdade e, por conta de nós mesmo, não se tornam.

4 comentários:

  1. Bem sempre vamos querer um amor perfeito como seja, mas o ter é que é difícil, pelo menos vindo de outra pessoa, me entende? Nossa vontade de ser amado prega peças, não é mesmo?

    "Eu vivo a mentira de achar que sou dependente dos meus arredores."

    Abraços,

    Charlie B.

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  2. "não quero ter você assim tão perto, assim tão longe."
    me prendi nesse dilema macabro, meio burro, de não saber pra onde ir nem o que fazer.
    chega a ser cômico de tão ridículo =s

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  3. gostei bastante da maneira de analisar a mente do personagem, ele consegue ser um complexo/simples.. um real/imaginário de uma maneira bem interessante de se ler.


    parabens mesmo!

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