sexta-feira, 25 de março de 2011

Contradição.

Certa vez ouvi falar que uma alma é perdida se, antes dos 30, não for de esquerda. Eram tempos diferentes. Os jovens de hoje estão diferentes dos de antigamente.

Pouco estudo, muito tempo na estrada, dois empregos pra sustentar a família que aumentou. E eu costumava escrever como se fosse morrer no dia seguinte. Vendendo textos eu tirava a renda pra sustentar eu, Anna, o amor de uma vida inteira, e Rita, a velha kombi em que viajávamos por aí. Agora as coisas são outras, eu segui o rumo (quase sempre) natural das coisas e segui aquela velha ordem de fatores: Nos tornamos velhos, obsoletos, construímos famílias. Para protegê-las, procuramos outros partidos, outros políticos, outros ideais, passamos a viver em reclusão, acreditando que se está bem. Estamos seguros em condomínios com circuito de TV.

Eu vivo pra contar história e por isso conta mais uma: Certa vez, em um trabalho temporário como carcereiro de uma prisão no oeste, fiz amizade com um dos prisioneiros da cela mais próxima da cadeira onde eu costumava ficar (era um emprego fácil, apesar de tudo. Não há muito trabalho num lugar tão monótono como aquele).
Conversa vai, conversa vem, Jack (era esse o nome do prisioneiro) ao me responder a pergunta, disse que quando saísse dali, reencontraria a esposa e os filhos, que provavelmente deviam estar sem rumo, e procurar um emprego digno. Achei engraçada a mentira tão sincera daquele cara, pois seus olhos faziam com que meu pensamento se direcionasse para:
- É claro que eu vou voltar a roubar quando sair daqui. Eu não tenho nem o ensino fundamental completo, que tipo de emprego eu posso arranjar assim? Como eu posso ter um nike se não for roubando?

Eu queria, por mais uma vez que fosse, estar de bem.
Ninguém é capaz de viver sem cair em contradição. Ou será que é? Ser livre para os mais conservantes é viver em vão. Nos fazem acreditar.

Perco fé, perco credo, perco esperança. Já perdi. Sou contradição.

Um comentário:

  1. E ao perder aquilo julgado importante, muitas vezes, nos ganhamos.
    O "eu" nem sempre certo.
    Bom texto garoto.

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