segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Pseudoprofundidade.

O calor daquele 23 de novembro me deixava cego ou qualquer coisa parecida, a parte boa disso era não precisar olhar. Eu estava parado, encarando a tenda fechada na qual dali algumas horas a banda do clube de corações solitários do sargento pimenta tocaria. Eu era o convidado da noite para fazer malabarismos com facas em chamas durante a apresentação e recitaria a mesma poesia de sempre, falando sobre os perigos de um romance.

Eu era o poeta da pseudoprofundidade. Vivia das obviedades que falava, enchia a cabeça de palavras tão complexas que não sobrava espaço parar guardar as pessoas na memória. Sempre fui solitário e até então aquilo parecia completamente normal.

Eu era preso a outras pessoas. Não por querer, mas sim por ter uma família perfeita a ponto de querer saber sempre onde você está. Preocupação sempre gerou frustração e acho que isso está bem longe de mudar. Eu desisti de viver e não foi por vontade própria. Os outros me induziram a querer isso. A parte ruim em desistir da vida é ter de acordar todo dia sabendo que você ainda precisa viver.

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Estou procurando me manter vivo, atrás de alguém
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Tudo que eu sempre quis foi um romance capaz de levar o meu ar embora. Nunca fui muito fã de todo esse ar enchendo o meu pulmão de vida. Eu queria, por meia-hora que fosse, estar em apuros por viver algo intenso demais pra durar. E isso continua sendo o que sempre quis.

3 comentários:

  1. Adoro como você usa situações do dia a dia para falar coisaslindas.



    "Tudo que eu sempre quis foi um romance capaz de levar o meu ar embora."

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  2. Apesar de ser um texto relativamente pequeno eu amei. Poderia roubar suas frases e escrevê-las por aí. Fazem todo o sentido, não são profundas demais e nem são colocadas de forma clichê. É a realidade.

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  3. Pseudo nada, verdadeiramente profundo. Que linda história, gostei de verdade.
    um beijo

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